Os indicadores mais básicos que classificam a Área Metropolitana de Lisboa (AML) são escamoteados pelas médias estatísticas que escondem uma realidade flagrante: a área metropolitana norte de Lisboa é a região mais rica do país e a Península de Setúbal (PS) é a 4.ª região mais pobre do país a seguir a Alto Tâmega, Tâmega e Sousa e, Beiras e Serra da Estrela. Esta região, comparativamente com o país, apresenta-se como uma região deprimida..Alguns dos indicadores do estudo da Plataforma para o Desenvolvimento da PS realizado em 2018:.- a PS contribui para a AML com 28% da população residente, mas apenas com 9% do VAB das empresas;.- em comparação com a média europeia, entre 2000 e 2016, o PIB per capita em paridade do poder de compra passou de 68% para 55%, ou seja, a PS divergiu, e em 2027 poderá representar cerca de 47%..Alguns indicadores da PS mostram mesmo uma situação mais gravosa do que as médias do país: refiro o poder de compra. A percentagem da população que recebe RSI ou a taxa de desemprego é mais elevada na região do que no país. Mas também a PS tem uma identidade económica, cultural, ambiental e social muito própria. Com um tradicional tecido industrial assente na metalurgia, a atividade económica da Península detém ainda uma invejável base industrial com peso significativo no ramo automóvel, na celulose e noutros setores, evidenciando, porém, uma terciarização da sua estrutura produtiva..São muitas as potencialidades presentes neste território referidas no relatório Plano Estratégico para o Desenvolvimento de Setúbal 2026. .Estas especificidades e potencialidades Estão por desenvolver e a atrofiarem-se dada a ausência de recursos, nomeadamente os fundos europeus, devido à sua inserção na AML considerada uma região fora dos objetivos da coesão..O sentimento de injustiça está presente nas intervenções dos vários parceiros económicos e sociais da PS Setúbal, há quase uma década, mas os responsáveis políticos teimam em não os escutar. Será que a PS, pela 3.ª vez consecutiva, vais estar impedida de aceder a mais apoios comunitários?.A ausência de Fundos Estruturais para a coesão não apenas penaliza as empresas existentes, mas também as que pretendem a região para se instalar acabam por o fazer em regiões mais apoiadas por fundos comunitários..Indústria, municípios e habitantes ficaram surpreendidos pela Ministra da Coesão Territorial ter dito não ser necessária uma nova unidade territorial para que a região aceda a mais apoios. Mas que tipos de apoios? Bazucas sucessivas e incertas? Que estabilidade garantem?.É inadmissível que a situação se prolongue. Que razões ou interesses existem para impedir que esta medida óbvia não seja tomada?.Por declarações de alguns e de algumas governantes, há o consenso suficiente para que se devolva o nível da NUT, que melhor serve o desenvolvimento da Região de Setúbal. Neste sentido, o Governo comprometeu-se a levar a Bruxelas, até ao passado dia 31 de agosto, o pedido para que se alcance este justo desígnio. Afinal o que aconteceu para que esse compromisso não fosse concretizado? Pergunto: sendo tão óbvio que o desenvolvimento integral e integrado de Setúbal, a continuar sem os adequados apoios comunitários, nunca corresponderá às potencialidades endógenas desta Região, que razões ou tipo de interesses estarão por detrás desta evidente hesitação que fez com que ainda não fosse tomada uma decisão que, há muito, já deveria ser uma realidade? Alguém, com legitimidade governativa, está disponível para responder? Estou certo de que a Associação da Indústria da Península de Setúbal - AISET, a Associação Regional dos Municípios de Setúbal - ARMS, bem como todas as forças vivas da Região estão, decerto, interessadíssimas numa resposta..Eugénio Fonseca, ex- presidente da Cáritas Diocesana de Setúbal