A origem italiana da família Júdice
O primeiro Júdice chegou a Portugal desde Génova, mas pouco se sabe sobre a sua origem. Há quem assegure que os seus antepassados foram príncipes, duques e estiveram ligados a conspirações maquiavélicas.
Quando chegou a Lisboa, no início do século XVIII, Paulo André Giudice (grafia original) não tinha uma mão-cheia de contactos nem familiares para o acolherem. Fugira às pressas das lutas políticas de Génova, mas as razões que o levaram a escolher Portugal como porto de abrigo ainda estão por esclarecer. Diz a "mitologia familiar"dos Júdice que um incêndio na casa de Estômbar durante as lutas liberais reduziu a cinzas uma velha arca que continha informação preciosa sobre o verdadeiro passado do italiano.
Ao certo sabe-se apenas que Paulo André era originário de S. Pedro de Arena, em Génova, e que teve com a mulher, Angela, quatro filhos, dos quais descenderam todos os ramos da família: por exemplo, os Júdice Allen, os barões da Regaleira, os Júdice Fialho, e os Ferreira Pinto Basto, fundadores da Vista Alegre, entre outros.
O passado deste italiano é um puzzle com falhas em peças- -chave que transformam a leitura da história familiar num exercício de imaginação.
Alguns genealogistas asseguram que o apelido é originário da Córsega e conseguem identificá- -lo no século XI. Mais tarde, os Giudice ter-se-ão mudado para Génova, onde ascenderam à mais alta nobreza: um tal Paolo Giudice foi chefe da antiga república de Génova, em 1561, e Nicolau Giudice conseguiu que Cellamare (terra de cinco quilómetros quadrados na região de Apúlia) fosse erigida a principado. Foi nessa altura que os Giudice se lançaram como um dos nomes mais importantes da costa do mar Adriático. Na sucessão do primeiro príncipe de Cellamare houve cardeais, bispos, mais príncipes e alguns duques. O mais famoso de todos foi Antonio di Giudice, 3.º príncipe de Cellamare e 3.º duque de Giovenazzo, embaixador em França do rei Felipe V. Dizem os manuais de história que este diplomata urdiu com a ajuda da mais maquiavélica aristocracia francesa a retirada da regência de França a Felipe d'Orleans.
Apesar das origens aristocráticas, foi através dos negócios que os Júdice se implantaram na sociedade portuguesa. Depois da ida para o Algarve de José Júdice, juiz destacado em Bartolomeu de Messines (e filho de Paulo André, o primeiro Giudice a chegar a Portugal), a família proliferou na região sul. Casamentos entre primos de vários graus fizeram o clã crescer em círculos cada vez mais apertados.
Foi no Sul que o ramo Júdice Fialho se destacou no mundo dos negócios. No início do séc. XX, José António Júdice Fialho começou a vender equipamentos para barcos de pesca mas rapidamente construiu uma frota própria que pescava na Terra Nova. Mais tarde diversificou para a indústria da conserva, em que a família deu cartas até aos anos 70. O império de conservas acabou mas novas aventuras empresariais nasceram.
Hoje, o apelido Júdice é representado por vários rostos. O mais famoso - José Miguel Júdice, ex-bastonário da Ordem dos Advogados - conheceu na prisão o célebre advogado António Maria Pereira, recentemente falecido, que na altura tinha uma choruda carteira de clientes estrangeiros. Depois das perturbações pós-revolucionárias, Júdice juntou-se a António Maria Pereira e a Luís Sáragga Leal na sociedade de advogados PLMJ.
Mais recentemente, a família Júdice entrou no negócio da hotelaria e restauração. O grupo Lágrimas Hotels & Emotions aposta em hotéis de charme e boa cozinha.
A saber: controlam o Hotel Quinta das Lágrimas, em Coimbra (que herdaram por via da família Alarcão), o Vila Monte Resort, em Mocarapacho, e são ainda accionistas dos restaurantes Eleven e Terreiro do Paço, ambos em Lisboa.