A nova pneumonia que começou num mercado chinês e já chegou ao Japão
Avolumam-se os receios sobre o novo surto de pneumonia em Wuhan, na China, depois de dois novos casos terem surgido nesta semana fora do país, na Tailândia e no Japão, a muitos quilómetros daquela cidade do interior da China. A uma semana das celebrações do Ano Novo chinês, este é um sinal preocupante, dada a grande movimentação de pessoas nesta altura do ano naquela região. Há, no entanto, um dado favorável: o contágio da doença entre humanos parece ser bastante reduzido.
Talvez por isso, e porque o surto parecia estar contido na origem, pelo menos até ao surgimento dos dois novos casos fora da China, a Organização Mundial da Saúde (OMS) não emitiu nenhum alerta, embora esteja a acompanhar a situação, recomendando, aliás, a motorização dos viajantes oriundos daquela zona da China. Já em Portugal, a Direção-Geral da Saúde recomenda a quem viaje para a região que evite o contacto com pessoas com sintomas de infeções respiratórias e com animais, além de lavar as mãos com frequência.
O surto, que é causado por um novo coronavírus, ao que tudo indica proveniente de animais vendidos num dos mercados de Wuhan, embora não se saiba quais, afetou 41 pessoas naquela cidade, todos elas frequentadoras do mesmo espaço, quer como vendedores quer como clientes. O local foi, entretanto, encerrado e sujeito a desinfeção, mas um dos doentes, um homem de 61 anos que tinha outras complicações de saúde, acabou por morrer e sete outros doentes estarão em estado crítico.
Desde 3 de janeiro, quatro dias depois de as autoridades chinesas terem reportado o surto, agindo rapidamente para o conter, que não se registam novos casos na cidade. No entanto, os dois doentes detetados nesta semana fora da China, na Tailândia e no Japão, deixam novas interrogações no ar. É certo que ambos tinham estado em Wuhan, mas, pelo menos no caso da mulher 61 anos que chegou doente a Banguecoque, não há nenhuma conexão com o mercado de onde procede originalmente o surto, o que aponta para uma maior probabilidade de contágio humano. Sobre o doente detetado na quinta-feira em Tóquio, não há mais informações, além de se saber que esteve em Wuhan.
Ao contrário do que aconteceu em 2002, quando ocorreu, também a partir da China e nesta mesma altura do ano, a epidemia que ficou conhecida por SARS - síndrome respiratória aguda grave, em português -, desta vez as autoridades chinesas reportaram em tempo útil o surto de Wuhan, e tendo sequenciado o genoma do novo coronavírus, já partilharam também essa informação. A OMS saudou, aliás, a atitude, salientando que esta partilha de informação é essencial para travar a possível expansão da doença.
Embora não tenha lançado nenhum alerta, a OMS já fez recomendações neste caso, que incluem a monitorização dos viajantes procedentes daquela região da China e a adoção das precauções habituais, como a lavagem frequente das mãos ou evitar o contacto com pessoas que apresentem sintomas de infeções respiratórias.
Em Portugal a Direção-Geral da Saúde recomenda também às pessoas que tenham viajado para aquela região da China e que apresentem sintomas de infeção respiratória para que procurem atendimento clínico e reportem a viagem a feita ao médico.
Apesar de as autoridades de saúde chinesas e a própria OMS considerarem por agora que o contágio humano desta pneumonia causada pelo novo coronavírus é reduzido, os dois casos noutros países asiáticos é um motivo acrescido de incerteza, sobretudo por estarmos em vésperas das festividades do Ano Novo chinês, que se comemora neste ano a 25 de janeiro.
Sendo a mais importante celebração na cultura chinesa, ela é tradicionalmente uma ocasião de reunião das famílias, pelo que nas semanas que antecedem e se sucedem às festividades há grandes movimentações de pessoas, com muitas a viajar para a China, dentro do próprio país e também para fora dele. Neste ano não será diferente, esperando-se que o número de viajantes possa atingir muitas dezenas de milhões.
O conhecimento do genoma do novo coronavírus é, por outro lado, muito importante porque permite identificar rapidamente a doença, mas também porque expõe as vulnerabilidades do agente infeccioso, permitindo encontrar estratégias para o neutralizar, caso se revele mais virulento do que agora aparenta ser.
Em 2002, um surto de pneumonia, que acabou por ficar conhecida como SARS, da sigla em inglês, surgiu na China e alastrou a 26 países antes de poder ser travada. Para isso contribuiu não só o facto de as autoridades chinesas terem tardado a dar conhecimento da epidemia, mas também a coincidência de ela ter ocorrido por altura do Ano Novo chinês, o que ajudou a dispersá-la à geografia do planeta. Causada por um coronavírus, um tipo de vírus que provoca infeções respiratórias em humanos e animais - algumas podem ser graves, outras ficam-se por constipações benignas -, a SARS manteve-se ativa até 2003. Fez mais de oito mil vítimas em 26 países, dos quais 774 morreram. Em 2011, ocorreu um outro surto do mesmo género, causado por outro coronavírus, desta vez no Médio Oriente. Começou na Jordânia e na Arábia Saudita e alastrou a dezenas de países, com 2500 casos confirmados. Desses doentes, 800 acabaram por morrer.