A nova adepta do V. Guimarães. Ex-atriz porno, ameaçada de morte pelo ISIS e com milhões de fãs

Nasceu no Líbano, mas aos 7 anos mudou-se para os EUA. Com formação superior em História, Mia Khalifa tornou-se uma estrela de filmes para adultos. Foram apenas três meses como atriz porno, mas tempo suficiente para ser ameaçada de morte pelo Estado Islâmico. Por cá, tem sido sido notícia por apoiar o V. Guimarães no jogo contra o Arsenal da Liga Europa.
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O Vitória de Guimarães defronta o Arsenal a 24 de outubro, um encontro a contar para a fase de grupos da Liga Europa. Até aqui tudo normal, mas quando entra em jogo Mia Khalifa o burburinho das bancadas sobe de tom. Trata-se da ex-atriz de filmes pornográficos que decidiu apoiar todos os clubes que joguem contra o Arsenal e a equipa minhota não é exceção. Aliás, a libanesa já tem uma camisola personalizada do Vitória de Guimarães. Mas quem é a nova adepta da equipa portuguesa?

Tem 26 anos, nasceu em Beirute, Líbano, mas aos 7 anos mudou-se para os EUA. Com formação superior em História feita na Universidade do Texas, Mia Khalifa, também conhecida por Mia Callista, ganhou fama como atriz pornográfica.

Apesar de ter estado apenas três meses nesta indústria, entre 2014 e 2015, é uma das artistas mais pesquisadas no site de filmes para adultos Pornhub. É seguida atualmente por 20 milhões de fãs nas redes sociais - só no Instagram são mais de 17 milhões.

As ameaças de morte

Foi curta a passagem pelos filmes pornográficos, mas tempo suficiente para ser controversa. Recebeu críticas no país onde nasceu e foi ameaçada de morte pelo grupo extremista Estado Islâmico.

De origem árabe e com uma educação cristã, Mia Khalifa chocou os mais conservadores do Líbano com a opção profissional que tomou, mas a polémica estalou quando numa das cenas de sexo que protagonizou a libanesa usou um hijab, véu islâmico que cobre a cabeça usado pelas mulheres muçulmanas.

Mal a cena foi divulgada "foi como um incêndio", recorda Khalifa à BBC. "O Estado Islâmico enviou-me ameaças de morte, uma imagem do Google Maps do meu apartamento". Confessa o medo que sentiu na altura que a levou a sair de casa para dormir num hotel durante duas semanas. Numa fotografia adulterada do grupo extremista, o rosto dela surge numa imagem de alguém a ser decapitado. Ainda hoje recebe mensagens ofensivas.

Reconhece que sabia que o que estava a fazer, usar o hijab numa cena de sexo, era polémico e provocador. Diz que teve medo, ficou nervosa, mas que se sentiu pressionada para fazer a cena, justifica.

A dificuldade em libertar-se do passado de atriz porno

Depois das ameaças, abandonou a indústria de filmes para adultos, mas o passado nunca a largou. Quando sai à rua, sente os olhares de quem está à sua volta, "É como se as pessoas pudessem ver-me através da minha roupa e sinto-me profundamente envergonhada", lembra numa entrevista dada à BBC no passado mês de agosto.

"Tenho a sensação de que perdi direito a toda a minha privacidade. E perdi, porque estou a um clique de distância no Google", considera. Basta escrever o nome de Mia Khalifa no motor de busca para surgirem milhares de resultados.

Deixou de ser atriz porno, mas a mudança de vida não se afigurou fácil, refere. O passado na indústria de filmes para adultos e a fama que lhe deu são entraves no mundo laboral, como descobriu ao tentar uma carreira no mundo do desporto. Ainda apresentou "Out of Bounds" um programa desportivo ao lado do antigo jogador da NBA, Gilbert Arenas, exibido num canal de YouTube. Mas a experiência durou poucos meses.

No ano passado abraçou outro projeto televisivo ao apresentar "SportsBall", ao lado do produtor Tyler Coe.

"Fico tão triste quando recebo um 'não' de empresas que não querem trabalhar comigo por causa do meu passado", lamenta a jovem estrela das redes sociais.

E foi precisamente no Twitter que a jovem libanesa esclareceu algumas dúvidas e rebateu críticas que ainda lê nos comentários sobre o seu passado.

"As pessoas pensam que estou cheia de milhões devido à pornografia. Isso é totalmente mentira. Ganhei cerca de 12 mil dólares e nunca mais vi um tostão depois disso. A dificuldade para encontrar um trabalho normal depois de ter desistido da pornografia foi... assustadora", disse num vídeo que partilhou com os seguidores da rede social.

Contra a indústria pornográfica

Evitou falar durante algum tempo sobre a sua faceta de atriz porno, porque, como explicou, ainda não tinha feito as pazes com o seu passado. Mas, afinal, como é que Mia Khalifa entrou na indústria de filmes para adultos? Ela conta que foi abordada nas ruas de Miami por um homem que a convidou a trabalhar com ele.

"É linda. Gostava de fazer uns trabalhos como modelo?. Tem um corpo lindo". Terá sido uma abordagem deste género que o homem lhe fez, como lembra a própria na entrevista à estação de televisão britânica. "Mais tarde, quando fui ao estúdio, encontrei um lugar muito respeitável, magnífico. Era limpo. Todas as pessoas que trabalhavam lá eram simpáticas".

Tinha 21 anos e era uma jovem mulher que "não tinha sido preparada para perceber que estavam a aproveitar-se dela e o que lhe diziam eram mentiras". Mia Khalifa considera que o que disseram na altura foi uma forma de a manipular de modo a que fizesse o que queriam. Aos 22 anos, tornou-se numa das artistas mais populares do site Pornhub, com mais de 1,5 milhões de pesquisas.

Outrora uma estrela porno, a libanesa usa a voz para acusar este meio ao considerar que as empresas desta indústria "prendem as mulheres legalmente a contratos quando elas estão vulneráveis".

Apesar de achar que se aproveitaram dela, não gosta de se considerar uma vítima. "Tomei as minhas próprias decisões, apesar de terem sido decisões terríveis", admite.

Repudiada pela família

Decisões terríveis terão também pensado os pais e toda a sua família, oriunda de um país árabe, com uma cultura, em geral, muito conservadora, quando perceberam que a jovem fazia realmente. "Eles repudiaram-me quando descobriram".

Um momento difícil para quem pensava que ninguém iria saber que era, na verdade, uma atriz porno, quanto mais a família. "Senti-me isolada, não apenas pelo mundo, mas também pela minha família e pelas pessoas à minha volta".

Embora já não seja uma estrela de filmes pornográficos, a família ainda hoje tem dificuldades em aceitar o seu passado. "Percebi que alguns erros são imperdoáveis. Mas o tempo cura todas as feridas, e as coisas estão a melhorar".

Sente-se responsável por ter entrado no meio, mas sublinha a importância de falar sobre esta indústria. "Devemos fazer algo para proteger outras raparigas para que elas não caiam na mesma armadilha que eu".

De atriz porno a influenciadora digital e a adepta do V. Guimarães

Certo é que se tornou "um fenómeno raro" na indústria, como classificaram os produtores dos filmes porno. Em 2016 foi considerada pela revista masculina Loaded , do Reino Unido, como uma das "Dez mais notáveis atrizes pornográficas do Mundo. Ficou em quinto lugar.

Agora é um fenómeno nas redes sociais, é considerada uma influenciadora digital, sendo que a paixão pelo desporto tem ajudado a jovem libanesa, noiva desde agosto, a aumentar a popularidade.

É adepta do West Ham e de todos os clubes que joguem contra o Arsenal e o Vitória de Guimarães é um deles. Os minhotos jogam com a equipa inglesa em outubro para a Liga Europa e não deixaram passar a oportunidade.

"Vamos contar com o teu apoio para a partida frente ao Arsenal", escreveu o clube português no Twitter. A ex-atriz porno não demorou muito a responder ao desafio. "Vamos Vitória!!!", escreveu na rede social.

Depois da troca de mensagens, a equipa de Guimarães ofereceu-lhe uma camisola personalizada do clube. "Mia Khalifa, agora estás pronta para apoiar o Vitória em outubro! Bem-vinda à equipa. Envia-nos a morada", pede o clube português.

Fã de desporto, torce por várias equipas norte-americanas e começou a interessar-se pelo West Ham, da Premier League, depois de assistir a um filme. "Eu vi o Green Streethooligans quando era mais nova e desde então adoro o West Ham", explicou Mia Khalifa à imprensa inglesa. A jovem nascida no Líbano já viajou dos EUA até Inglaterra onde teve a oportunidade de ir ao estádio da equipa inglesa.

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