Um pedido de desculpas não é a melhor forma de começar um concerto. E ontem a noite no Angrajazz começou com um - Gregory Porter, cabeça de cartaz do festival, não atuaria como esperado no que devia ser a última noite do festival. Ainda assim, também há pedidos de desculpa que se aceitam melhores que outros e a ausência do cantor de jazz mais mediático do momento tinha uma justificação. A noite acabou por ficar entregue ao quarteto de Tord Gustavsen e hoje Porter deverá mesmo cantar nos Açores..O telefonema chegou há duas semanas aos organizadores do festival. Ao contrário do prometido, Gregory Porter não chegaria à Terceira na véspera do concerto. Tinha recebido um convite para cantar no Carnegie Hall, em Nova Iorque, no primeiro dia de Outubro e só chegaria aos Açores na manhã da atuação. Se do outro lado do Atlântico as notícias sobre a homenagem a Bill Whiters dificilmente poderiam ser melhores - Porter cantou Let me be the one you need em dueto com Valerie Simpson - a má notícia chegou ontem aos Açores: o mau tempo impediu o voo de Nova Iorque para Boston e mesmo tendo cumprido a viagem de quatro horas de carro, Porter não chegou a tempo de apanhar o avião que o deveria trazer à Terceira..E foi depois da organização oferecer a devolução do dinheiro do bilhete na íntegra a quem não pudesse assistir ao concerto adiado que subiu ao palco o pianista Tord Gustavsen. Acompanhado por saxofone (Tore Brunborg), contrabaixo (Sigurd Hole) e bateria (Siv Oyunn Kjenstad) e com um computador portátil ligado ao piano de cauda, o norueguês convidou o público a uma viagem pelo jazz do norte da Europa..Esse, é sabido, raramente é consensual, é pouco dado a exibicionismos e destaca-se pelo ambiente envolvente com que tenta capturar quem o ouve. Ontem no Centro Cultural de Angra do Heroísmo, Gustavsen conseguiu ser consensual. Exímio pianista - ou não teria seis discos editados na seleta editora ECM - e acompanhado por um trio com uma precisão que podia servir de cartaz de apresentação a metrónomos nórdicos, durante perto de hora e meia o passeio foi pelos recantos da Noruega..Ouviram-se adaptações de cantos corais, de tranquilas danças tradicionais e canções de embalar, sem o swing e animação que Porter seguramente trará ao festival, Gustavsen segurou a noite e mostrou a faceta mais tranquila do jazz. Sem grandes surpresas, sem grandes sobressaltos, mas também sem tempestades capazes de cancelar voos.