Não é para todos. Luís Miguel Anjos já estava bastante satisfeito com o facto de ir assistir a um concerto da sua banda favorita no seu dia de anos, mas, nessa tarde, quando foi ter com um amigo a um hotel de Lisboa não imaginava que iria conhecer, os três elementos históricos dos Pixies. "Foi uma surpresa enorme e foi a melhor prenda de anos que alguma vez tive", conta este engenheiro de 45 anos. "Bebemos uma cerveja, tirámos uma fotografia e estivemos um bocado a conversar. Falámos dos discos e de outras coisas. Eles são muito simpáticos. E estão todos carecas", lembra..Luís já perdeu a conta aos concertos de Pixies (e de Black Francis a solo) a que já assistiu. O melhor de todos foi, seguramente, o de 1991, no Coliseu de Lisboa: "O Coliseu foi literalmente a baixo. Quando apagaram as luzes e se ouviu o princípio do Rock Music começou tudo ao moche e a dançar, foi fantástico, estava toda a gente numa espécie de alucinação coletiva. De tal maneira que ao fim de cinco segundos perdi-me de todos os meus amigos." Nuno Kok Nam também lá estava, no meio do moche. "Foi o melhor concerto deles que vi", concorda. "Ainda acho que a banda original, com a Kim Deal, é que eram os verdadeiros Pixies", diz Nuno, que hoje tem 44 anos e que elege o álbum Doolittle (1989) como o melhor do grupo..Luís Anjos descobriu os Pixies, como tantos outros músicos "fora do mainstream", n"O Som da Frente (1982-1993) o programa de Rádio de António Sérgio. Rui Brito Jorge também ouvia O Som da Frente mas foi num outro programa de António Sérgio, anterior a esse, o Rolls Rock (1980-82), que descobriu a banda que iria tocá-lo como nenhuma outra: os Cure. "Tinha 17 anos e na altura era muito influenciado pela música que os meus irmão s mais velhos ouvia, que eram mais funk e soul. Quando ouvi Cure mudei a agulha, comecei a acompanhar o pós-punk", conta este empresário do Porto, que tem 52 anos e é também ele promotor de concertos. "O Robert Smith influenciou-me muito. Principalmente por causa da música, mas também a imagem. Houve uma altura, ali com 17 anos, que ainda tentei usar os cabelos despenteados como ele", recorda.."Os anos 80 foram uma grande década", conclui Nuno Kok Nam, que também cresceu a ouvir (e a gravar) os programas de António Sérgio e a ler o jornal Blitz. "Havia uma página de vendas e trocas e arranjávamos muitas coisas, gravações de concertos e tudo", lembra. Ouviam Pixies e Cure, mas também Violent Femmes, Echo & the Bunnymen, Joy Division, Smiths. "A música que ouvimos quando somos jovens fica para sempre.".Amanhã, Luís Anjos e Nuno Kok Nam vão faltar a mais um concerto (trabalham em Lisboa e desta vez eles só vêm ao Porto) mas ambos viram-nos no ano passado no Nos Alive. "Já não são aquele furacão que eram", admite Luís. "Mas foi um bom concerto." "Estão velhotes", diz Nuno. Talvez lhes falte a garra de outros tempos, mas também não é para isso que os fãs de sempre vão aos concertos: "Deu para cantar umas canções e estar com os amigos." Um concerto é como uma viagem no tempo..Já Rui Brito Jorge não permite que a distância o impeça de ver, mais uma vez, o seu grupo preferido: vem do Porto, onde mora, até Lisboa, onde eles atuam na terça-feira, na Meo Arena. "Consegui juntar um grupo de 55 pessoas e alugámos um autocarro. Somos todos entradotes, a partir dos 30 anos e até mais velhos. Vamos curtir. É uma maneira de ir ao concerto de forma tranquila." Rui acredita que esta será a última oportunidade para ver o seu ídolo em palco: "Vai ser o culminar desta relação com Robert Smith. Não acho que eles voltem, não têm feito músicas novas e, vendo o alinhamento dos concertos que eles têm estado a fazer, vê-se que estão a tocar os grandes temas. Para mim, é uma despedida. Vou como uma homenagem. Não vou com muitas expectativas, não acho que vá ver um grande concerto, esse já o vi, no estádio de Alvalade [em 1989].".The Pixies Amanhã, dia 21 20:30 (primeira parte: FEWS) Coliseu do Porto Bilhetes: 25 euro/55 euro The Cure Terça-feira, dia 22 20.00 (primeira parte: The Twilight Sad) Meo Arena, Lisboa Bilhetes: 35 euro/55 euro