A Moody's e o Orçamento
Pode dizer-se que as agências de rating são como as sondagens, valem o que valem. Porém, e ao contrário das sondagens, as opiniões que expressam não são reflexo de meros estados de alma ou sentir de pulso. Têm consequências na reputação dos países e das instituições que avaliam. Foram elas que arrasaram Estados durante a crise financeira ou burlaram investidores quando atribuíam triplo AAA ao Lehman Brothers. E por isso a nota positiva dada pela Moody's ao Orçamento português aprovado na generalidade é relevante. Permite-nos, desde logo, enfrentar o mercado de dívida de forma menos tensa e, ao mesmo tempo, aspirar a que os outros polícias da notação financeira lhe sigam o exemplo. Desta vez, e ao contrário do que tantas vezes aconteceu no passado, não se fizeram juízos políticos sobre a natureza do governo em funções ou os malefícios da democracia, esse empecilho à economia e aos investidores. O que se disse, factualmente, é que é positivo que haja um Orçamento aprovado e que este, em concreto, é realista e credível, mesmo que não cumpra a meta de 2,2% estabelecida para o défice. A Moody's, tal como as outras agências, sempre alérgica a derivas ideológicas esquerdistas, não deixou de surpreender com esta avaliação, estando nós confrontados com opções políticas que merecem o apoio do Bloco e do PCP. E a razão talvez seja simples: conforme foi dito e repetido no Parlamento, este Orçamento é do PS e ponto final. Nem sequer a proposta de nacionalização de um banco ou as exigências de reestruturação da dívida portuguesa impressionaram negativamente os analistas. O que isto confirma, mais uma vez, é que a alternativa existia por mais que se dissesse o contrário e que os mercados reconhecem que Costa não é Tsipras e Centeno não é Varoufakis. Depois do aval de Bruxelas e da Moody's à política orçamental da esquerda e, por consequência, ao executivo atual, a direita portuguesa fica com cada vez menos argumentos e é bom que deixe de se comportar como governo no exílio que não aceita as regras da democracia. Quererá esta avaliação dizer que a Moody's teve um desvio de esquerda? De todo. Significa, tão-só, que António Costa ainda goza de estado de graça. Veremos até quando.