A minha noite com os bandidos

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Tenho seguido histórias de hooligans com um certo fascínio negro. Até que, no sábado, as vi ao vivo no Inglaterra-Rússia. Durante o dia, não foi difícil evitar problemas. Bastou ficar longe dos bares do centro de Marselha, cheios de bêbados. Quanto mais perto do recinto, pior o ambiente. Quando estive nos Mundiais do Brasil e da África do Sul, a organização junto aos estádios era meticulosa e havia sinais e voluntários por toda a parte a ajudar os fãs a chegar ao lugar o mais rápido possível. Em Marselha foi diferente. Depois de andar 5 km até ao recinto, os portões estavam trancados. Uma multidão de adeptos - muitos bêbados - esmagada contra o gradeamento. Cada vez mais gente a chegar. Nada de instruções. Atrás de nós rebentavam latas de gás lacrimogéneo e as pessoas fugiam. Decidimos escapar, passando por uma brecha para um parque - a única saída possível era saltar uma cerca com picos metálicos. Portanto, a uma hora do jogo eu estava a equilibrar-me em cima da cerca, a três metros do chão, rodeado de ingleses cambaleantes e do barulho de sirenes, cânticos e latas de gás a rebentar. Desci, dei a volta ao estádio e acabei, por acaso, no portão certo. Uma massa de gente espremia-se por uma porta quando vi um portão com uma placa a indicar Media; e aproveitei a estranha reverência dos franceses pelo cartão de imprensa. Dentro do estádio o ambiente estava mais tenso do que nunca, mas ao menos não corria o risco de ser esmagado. Perto do fim do jogo, com Inglaterra à beira da vitória, ouviu-se uma explosão do lado onde estavam os russos. Uma cortina de fumo levantou-se do chão. Com os receios de atentado terrorista no Euro, rebentar petardos dentro do estádio não foi inteligente - como é que os passaram pelos apertados controlos de segurança? O empate da Rússia e o apito final pioraram as coisas. Felizmente, conseguimos sair dali depressa. No metro, ingleses e russos lado a lado. É mesmo uma minoria que está a causar problemas. Mas pode fazer muitos estragos - especialmente se houver falhas de segurança.

Especialista do Financial Times em política internacional

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