Djavan: "A minha mãe colocou-me duas vezes no mundo"

Está de regresso a Portugal para apresentar o espetáculo "Vidas pra Contar", inspirado no último álbum com o mesmo nome, no qual aborda pela primeira vez temas autobiográficos, como a relação com a mãe.
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Aos 67 anos e já com mais de quatro décadas de carreira, Djavan ainda consegue surpreender os fãs. A melhor prova disso é seu último álbum, Vidas pra Contar, o 23.º da sua carreira musical, lançado no início deste ano, no qual volta a alargar ainda mais a diversidade de universos artísticos e musicais da sua música, em 12 temas que vagueiam pela MPB, pela pop, pelo funk ou o pelo jazz, todos compostos pelo próprio músico e nos quais, pela primeira vez, aborda temas autobiográficos.

É o caso de Vida Nordestina, onde fala da sua cidade natal, Maceió, ou de Dona Horizonte, uma canção de homenagem à mãe, figura central na sua opção pela música, deixando cair de vez o sonho de vir a ser jogador profissional de futebol. É este disco que o traz de volta a Portugal, para três concertos, onde, além dos temas de Vidas Pra Contar, não faltarão também, como o próprio promete nesta entrevista ao DN, alguns dos seus mais celebrados êxitos, como Flor de Lis, Linha do Equador, Lilás ou Eu Te Devoro.

Que vidas são estas, as que conta neste disco?

São muitas as vidas que canto neste disco. Falo das pessoas, das relações humanas que estabelecem entre si, do amor e do homem no geral, num contexto político, social e cultural. Falo até da vida de um inseto, no tema que dá nome ao disco.

E fala também da sua própria vida. Pode-se dizer que este é o seu primeiro disco autobiográfico?

De certa forma sim, porque foi a primeira vez que fiz músicas autobiográficas, revelando um pouco da minha vida. Vida Nordestina, por exemplo, tem a ver com a minha relação afetiva com o Nordeste, onde nasci e cresci. Adoro a fraternidade do povo, a sua relação com a fé e a festividade.

Mas também faz uma clara homenagem à sua mãe, no tema Dona Horizonte...

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Não foi algo planejado, mas que aconteceu naturalmente, porque tenho pensado muito nela ultimamente. Foi uma figura muito importante na minha vida, pelo modo como percebeu o meu talento para a música antes de ninguém, até antes de mim. Costumo até dizer que ela me colocou duas vezes no mundo, quando nasci e quando me incentivou a seguir essa vocação. Foi ela que me apresentou a música dos grandes ídolos da época, como Orlando Silva ou Luiz Gonzaga.

Este espetáculo, que foi um grande sucesso no Brasil e traz agora a Portugal, é mais centrado neste último disco ou também vai cantar os clássicos?

Vou tocar muitos temas do novo disco, que até dá o nome ao show, mas também outras mais antigas, algumas que até raramente canto ao vivo e os clássicos que todos querem ouvir, claro, até porque tenho um prazer enorme na interação com o público quando canto essas músicas.

Neste disco voltou a reunir a banda com quem tocou durante muitos anos e que agora também o acompanha em palco. Porque teve essa necessidade?

Acima de tudo porque temos uma relação muito boa, tanto a nível pessoal como musical. O que é um descanso para mim quando estou em palco, quase nem precisamos falar. Foi uma necessidade de convivência, reconheço, mas também o fiz porque são todos músicos muito virtuosos.

Vidas pra Contar é também um álbum muito diverso em termos musicais, que é uma imagem de marca da sua música. Concorda?

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A diversidade é talvez a coisa que eu mais valorize, tanto na vida como na arte em geral. E a diversidade de géneros presente na minha música é também um espelho disso. Sou uma pessoa que gosta muito de observar as diferenças e em termos musicais é um privilégio poder trabalhar assim, sem barreiras, o que me dá muita alegria e liberdade na hora de compor. Ando sempre em busca de novidades, e esse ecletismo nota-se bastante neste disco.

No ano passado recebeu pela terceira vez um Grammy Latino, neste caso na categoria de Prémio à Excelência Musical. O que sente ao ver a sua carreira reconhecida desta forma?

O primeiro, em 2000, foi para o tema Acelerou, premiado categoria de Melhor Canção Brasileira e depois, em 2011, recebi outro pelo disco Ária, então considerado o Melhor Álbum de Música Popular Brasileira, mas, sem dúvida, este último foi o que mais me emocionou e deixou feliz, porque representou um reconhecimento global por toda a obra e pela minha evolução enquanto artista. Foi um daqueles momentos em que percebemos que deu certo, é esse o significado desse prémio.

Djavan

Amanhã,

Campo Pequeno, Lisboa, 21.30,

bilhetes entre 20 e 60 euros

No domingo,

Coliseu do Porto, às 21.30,

bilhetes entre 20 e 70 euros

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