A menina dança ou se a política é um baile

Mário Soares admitiu que não lhe repugna um acordo entre PE e BE, mas os bloquistas não estarão dispostos a viabilizar as políticas que contestam <br />
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Mário Soares admitiu ontem na caravana socialista que não lhe repugnava um acordo entre PS e Bloco de Esquerda. Francisco Louçã respondeu ao início da tarde, ironizando que a ideia lhe lembrava a frase de um programa de rádio: "A menina dança?" A expressão provocou risos, num teatro em Santarém, e logo veio o remate de que "a política não é um baile".

O Bloco fala em reforço da esquerda e explica em cada comício que quer influenciar decisões. A campanha bloquista sublinha a ideia de que Sócrates falhou, criando o maior aumento de sempre do desemprego, o ataque à educação, a redução das pensões futuras. O bloco fala em "asfixia social".

Ontem em Riachos, Torres Novas, Louçã reagiu a um ataque de Sócrates sobre as posições do BE na questão da GALP, feito na entrevista do primeiro-ministro ao DN.

Quando se conheceu a declaração de Soares, Louçã explicou aos jornalistas que acompanham a sua campanha que "que respeita a opinião" do ex-presidente, mas que não fará uma aliança "com um governo que tem destruído o bem público nacional, que tem degradado a saúde e cujo projecto é continuar com o código do trabalho".

"Não fazemos acordos com os quais discordamos. O BE é a esquerda necessária", acrescentou Louçã, em declarações feitas num comício numa freguesia de Torres Novas, Riachos, onde o BE conseguiu uma votação de mais de 20% nas europeias, menos duas dezenas de votos do que o PS local.

Riachos tem um bloco central, situação que poderá alterar-se nas autárquicas, com o triunfo da esquerda. Este microcosmos parece um dos cenários possíveis do dia 27: o PS sem maioria absoluta, mas a soma entre PS e BE superior a 116 deputados. O cenário dos governos de Guterres, mas com o BE como a terceira maior força.

Os dirigentes bloquistas afirmam que o seu partido não fará coligação de governo ou acordo parlamentar com cedências. As leis serão negociadas uma a uma no parlamento e os deputados do BE continuarão a combater decisões como as que foram tomadas pelo actual governo de maioria absoluta, "que prejudicaram o país e os mais pobres".

O BE acredita que esta é uma alteração fundamental, pois diz que um bloco central tácito tem governado o país. A negociação caso a caso lembra o tempo de Guterres e do pântano, mas os bloquistas não acreditam que a formulação seja instável. Guterres governou seis anos em minoria e podia ter ficado mais tempo. Foi o que falhou no baile da política desse tempo: era preciso dois para o tango, mas a menina não quis dançar sempre.

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