O dealbar do século XX assistiu ao nascimento da Comunidade da Austrália, após os seis estados da Coroa Britânica daquele território acordarem na constituição de uma federação. Estava-se a 1 de janeiro de 1901, mês aziago para a coroa britânica. Após 63 anos de reinado, Vitória do Reino Unido falecia aos 81 anos, no vigésimo segundo dia do mês inaugural do calendário. Ainda em 1901, os Estados Unidos da América, saudavam, em março, o segundo mandato do Presidente William McKinley. A 6 de setembro do mesmo ano, McKinley entrava para a funesta lista de presidentes norte-americanos assassinados, depois de Abraham Lincoln, em 1865, e James A. Garfield, em 1881. Após oito dias, William McKinley soçobrou aos ferimentos causados pelo atentado que sofrera durante a visita à Exposição Panamericana. Sucedeu-lhe, no cargo maior do governo americano, Theodore Roosevelt, até então vice-presidente..Nesse mesmo ano de 1901, os Estados Unidos celebravam as maravilhas da invenção da iluminação elétrica, com uma rede de abastecimento de eletricidade que robustecia a economia da Segunda Revolução Industrial, com as suas indústrias química, do petróleo e do aço, a produção em linha de montagem, a invenção do motor a combustão interna, entre outros traços de um novo mundo. Thomas Edison, empresário e inventor, nascido em 1847, no Ohio, corporizou as novas ambições do final do século XIX, início do século XX. À invenção do fonógrafo e do cinematógrafo, Edison juntou o aperfeiçoamento do telefone, da máquina de escrever, e de alimentos empacotados em vácuo..Entre as mais de duas mil patentes registadas por Edison, a da lâmpada elétrica incandescente comercializável trouxe-lhe o travo a vitória, após anos de desaires neste campo. Em 1879, acendiam-se as primeiras lâmpadas que transformavam energia elétrica em energia térmica. Nos anos seguintes, a América do Norte emergia da escuridão da noite. .Robustecia a comunidade de novos empresários ligados à indústria elétrica. Um deles, Adolphe Chaillet, nascido em França em 1867, emigrado para os Estados Unidos em 1892, via o seu negócio florescer, em Shelby, Ohio, em finais do século XIX. A invenção de um modelo de lâmpada elétrica com filamento de carbono, permitia-lhe um brilho mais robusto e duradouro. Da fábrica de Adolphe saíam anualmente milhões de lâmpadas. Algumas, entre elas, entregues na Califórnia, nas mãos do empresário, Dennis Bernal..Este, prosperava com a Livermore Power and Water Company, empresa que se instalara, no correr de 1890, numa cidade de média dimensão. Livermore, hoje com perto de 80 mil habitantes, faz de um objeto doado por Dennis Bernal ao corpo de bombeiros motivo de visita e orgulho nacional que mereceu, a 1 de junho de 2001, missiva escrita pelo punho do Presidente dos Estados Unidos. A carta que George W. Bush endereçou à corporação de bombeiros de Livermore expressava o sentimento de perenidade do espírito inventivo americano. Em 1901, ano que em a Rainha Vitória exalava o seu último suspiro, William McKinley soçobrava ao atentado que sofrera e a Austrália abria caminho para a independência do Reino Unido, a lâmpada de Adolphe Chaillet iluminou-se nas instalações dos bombeiros de Livermore..Até hoje, a Lâmpada Centenária brilha continuamente sob o estatuto de lâmpada incandescente mais duradoura, o que lhe merece honras no Guinness World of Records, desde 1972; mote para uma película de 2010 de alerta para o consumismo desenfreado e mesmo base para um estudo desenvolvido por uma física. A Lâmpada Centenária sobreviveu a 22 presidentes norte-americanos e a três webcams responsáveis por transmitir a luz débil da Centennial Bulb, não mais de 4 watts, face aos 30 watts que teria no seu início de vida. Cento e vinte anos de trabalho sem interrupções desgastam, mesmo quando são o corolário de uma "vida" sem atribulações, como aquela narrada em 1972 pelo jornalista local Mike Dunstan e, mais tarde, no mesmo ano pela revista das Seleções do Reader's Digest..Nos seus 120 anos, a Lâmpada Centenária mudou de casa quatro vezes, acompanhando as instalações dos bombeiros de Livermore. Por mais de 75 anos esteve ligada à rede elétrica da cidade, sujeita a oscilações de energia até que, já na década de 1970, percebida a longevidade daquele testemunho de uma América antiga, que se industrializava, a lâmpada ganhou o seu primeiro gerador de emergência..E manteve duradoura a sua luz, sempre no casquilho original..Uma sobrevivência que, em 2010, despertou a atenção de realizadora alemã, nascida em 1965, Cosina Dannoritzer. Em Comprar, Tirar, Comprar, documentário produzido pela televisão espanhola, a pacata Lâmpada Centenária, saiu do seu reduto californiano para a ribalta. A longevidade da lâmpada de Chaillet serviu de fundamento aos argumentos tecidos na película de Cosina, como suporte à teoria da obsolescência programada. Resumindo: a vida útil dos produtos é deliberadamente limitada para fomentar o consumo constante através da insatisfação. Uma prática que, de acordo com quem a suporta, terá as suas origens em 1924 num acordo firmado por fabricantes norte-americanos..Indiferente às polémicas do consumo acelerado dos séculos XX e XXI, a Lâmpada Centenária exibe a sua luz de 4 watts a quem a quiser visitar. "Vá até às traseiras da estação e toque à campainha. Se estiver alguém atenderá a porta. Caso contrário poder ver a lâmpada olhando pela janela", anunciam os bombeiros de Livermore no site dedicado à lâmpada anciã..Em 2007, Debra Katz, docente de física na Academia Naval dos Estados Unidos, submeteu a estudos a estrutura da Lâmpada Centenária, recorrendo a uma congénere há muito fundida, para concluir que o seu filamento de carbono é oito vezes mais grosso face ao das lâmpadas produzidas nas décadas seguintes..A baixa intensidade da luz, também pode explicar a sua durabilidade. "Uma espécie de animal de baixo metabolismo que consome menos energia, mas fá-lo por mais tempo", sublinhou Katz, que lemos citado no site oficial da Centennial Bulb.