É um exército numa guerra travada há quase um ano. O esgotamento dos nossos profissionais de saúde estão a surgir sob a forma de ansiedade, stress e sintomas depressivos..Todos os níveis da força de trabalho da área de saúde são suscetíveis a altos níveis de esgotamento durante esta pandemia. A pressão sobre o sistema de saúde português devido à pandemia COVID-19 levou a um aumento do sofrimento psicológico entre os profissionais de saúde..Os nossos médicos, enfermeiros, técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica, farmacêuticos, fisioterapeutas, dentistas, assistentes operacionais, psicólogos, administrativos dos serviços e um conjunto de técnicos de apoio e logística das unidades de saúde estão metidos numa guerra tão mais fria e invisível alguma vez vivida na história..O corpo do novo exército não tem um plano de rendição, os soldados continuam a ser os mesmos. A missão, afinal, não foi tão bem planeada pelo comando governante quando a guerra foi declarada, segue insegura e incerta, os recursos são fracos e estão se esgotando..Além disso, muitos destes soldados em combate já se foram...Alguns até já desistiram da própria vida. Que dor, para quem foi e para quem fica. Quem cuidará da família destes? Quem se responsabilizará pelas consequências das respostas insuficientes e ineficazes onde meteram os nossos profissionais de saúde?.Outros profissionais de saúde estão se arrastando pelos corredores dos serviços transformados nos últimos meses em covidários por este país. Quem está a ampará-los?.Alguns conseguiram pedir ajuda, e outros já foram resgatados ainda com vida pelos próprios meios e pelas poucas forças..Entretanto, houve alguns que foram forçados a estar na linha da frente, não fosse o SNS o cenário mais catastrófico deste país. E, agora vimos que, afinal, também estamos metidos num dos piores cenários de catástrofe biológica do mundo. A guerra não acabou, e mostra-se violenta, matando centenas de portugueses todos os dias. E as nossas armas estão a esgotar. Os nossos soldados estão feridos e fracos..O poder que coordena os nossos soldados do SNS, pela tutela do Ministério da Saúde, pela DGS e sob as ordens do Governo de Portugal, está confuso, desorientado e desde o início desta guerra anda descoordenado. A incongruência estratégica e a falta de coesão das medidas implementadas estão a ter graves e largas consequências no sistema de saúde, económico e social, e as vidas da nossa população estão a ser a cada dia dizimadas. Somos hoje um dos piores países combatentes desta guerra. Alguém disse aos soldados, se tens medo, vai com medo mesmo... Não foste preparado para esta guerra, nem os teus governantes têm as certezas das estratégias para vencê-la, por isso, avança!.A artilharia contra o inimigo foi e continua a ser mal planeada. Como já passou quase um ano, os estragos já foram muitos. O confinamento da população para a proteger foi feito com muitas exceções e medo, e muitos de nós e dos nossos familiares já fomos apunhalados pelo inimigo..E o povo?.O povo passou de incrédulo a assustado..Agora, resta saber se os soldados feridos e exaustos serão cuidados e terão o acompanhamento desta furiosa guerra no período alongado de pós-combate? Serão os veteranos acompanhados e recompensados por terem sofrido?.A pandemia continua, e 2021 ainda só começou. Abordar e melhorar a resposta ao burnout entre os profissionais de saúde ser uma das principais prioridades para a manutenção dos esforços para cuidar dos doentes nesta pandemia prolongada..*Enfermeiro e mestrando em Gestão da Saúde pela Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade NOVA de Lisboa