Ao pesquisar Vedrò con Mio Diletto de Vivaldi no Google, um dos primeiros resultados que aparece é o vídeo da interpretação desta peça pelo artista polaco Jakub Józef Orliński. O vídeo que contabiliza mais de 10 milhões de visualizações foi uma surpresa inesperada para o músico. "Não sabia que naquela altura eles iam ter câmaras. Foi-me apenas dito que seria uma atuação para rádio e fiquei surpreso pelas câmaras", recorda Jakub Józef Orliński em conversa com o DN..O contratenor polaco Jakub Józef Orliński estreia-se em Portugal com dois concertos: um hoje no Porto (Teatro Rivoli) e outro na segunda-feira em Lisboa (Centro Cultural de Belém) numa homenagem aos 80 anos de Jorge Gil (1943-2019), fundador do programa Em Órbita - que começou a ser emitido no Rádio Clube Português e mais tarde passou para a Antena 2 . Juntamente com a orquestra il Pommo d"Oro (composta por 17 músicos), o concerto vai contar com o programa Facce D"amore, um dos preferidos dos artistas. "Apesar de atuarmos as mesmas músicas, fazê-lo de formas diferentes", diz o músico. "Há algumas músicas no programa que não são nada conhecidas. É muito divertido trazer essas peças que foram tocadas pela última vez há 200 anos"..A música sempre fez parte da vida do artista. Desde as viagens de carro com a família onde ouvia todo tipo música ao encontro com os amigos depois das aulas para cantar. Estudou na Universidade polaca Fryderyk Chopin e passou também pela Julliard, a prestigiada escola de música de Nova Iorque..Para além de ser cantor, o músico polaco tem um currículo cheio. A lista de atividades que já praticou passa pela dança, ginástica acrobática, capoeira, snowboard, entre outros. No entanto, o break dance é uma das modalidades que praticou e onde mais se destacou, juntando-a muitas vezes com música clássica. Apesar de apenas ter começado neste estilo aos 18 anos, o breaking tornou-se numa paixão. "Eu encontrei o breaking e foi como uma luz para mim, porque combina criatividade, música e também dá esta oportunidade de te expressares a ti mesmo. Ajuda-me a libertar a minha mente"..Apesar da música clássica e break dance serem atividades muito distintas, a sua junção foi possível. "O break dance ajuda-me a cantar e cantar é muito fixe para dança. Eu tento às vezes, por exemplo, dançar com estivesse numa peça clássica, enquanto canto para ver qual é a vibe e qual é a emoção que estou a sentir no meu corpo. Mas no final, sou mais cantor, o breaking é uma coisa que está comigo ao longo do caminho", acrescenta..Jakub Józef Orliński já ganhou vários prémios na indústria da música como o Marcella Kochañska Sembrich, Opus Klassik , International Classical Music Award em França, entre outros. Ao DN, o artista conta que conseguiu atingir todos os seus sonhos que nunca na sua vida tinha pensado que iria conseguir: fazer concertos pelo mundo. "Penso que consegui e estou super feliz com aquilo que faço mas também só tenho 32 anos e ainda estou a aprender e a praticar para progredir naquilo que faço", disse..Com quase 160 mil seguidores no Instagram, apesar de não ter sido um objetivo inicial, pretende agora também desmistificar a ideia que a música clássica é apenas para pessoas mais velhas ou de um determinado estatuto social. "Eu não concordo com essa ideia, porque as óperas e os concertos clássicos não são muito caros. Através do Instagram tenho também mostrado às pessoas o que é ser um músico clássico. E estou muito feliz de ver muitas pessoas jovens a irem aos concertos e ficarem curiosas sobre o mundo da música erudita"..Para além da digressão, o polaco está também a editar o seu próximo disco, que vai sair no outono de 2023 e que conta com a participação da orquestra Il Pomo d"Oro. "Vai ser um álbum muito maluco e divertido", acrescenta..Os irmãos João Miguel, Duarte, Teresa e Tomás Gil escolheram Jakub Józef Orliński para o concerto de homenagem a seu pai, Jorge Gil, arquiteto, pintor e fundador do programa radiofónico Em Órbita..Para João Miguel Gil, a escolha pareceu óbvia. "Trata-se de uma das principais vozes da atualidade, acompanhado nestes concertos pela fantástica orquestra il Pomo d"oro, e que nunca tinha vindo a Portugal. Apesar de jovem, tem realizado um trabalho fantástico na redescoberta e interpretação de repertório barroco esquecido. Consideramos que o futuro da música passa por figuras como ele", explica ao DN..Em Órbita trouxe para Portugal "o melhor" da música pop do mundo, dando a conhecer artistas como Beatles e Rolling Stones. Em 1974, o programa passou a dedicar-se apenas a música clássica com Bach e Vivaldi . O arquiteto começou depois a organizar concertos deste género musical..Este ano, Jorge Gil faria 80 anos e o último concerto que organizou foi no Rivoli em 2003..mariana.goncalves@dn.pt