À data a que escrevo, sábado, dia 5 de agosto, ainda decorre em Lisboa a Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Um evento extraordinário, com a presença de Sua Santidade o Papa Francisco, que juntou perto de um milhão de pessoas, de todos os cantos do mundo, mesmo naqueles onde impera o conflito, a guerra e a violência..Muitos são crentes, movidos por uma Fé que se sente, mas não se explica. Recordo-me sempre da frase que é atribuída a Santo Inácio da Loyola e também a São Tomás de Aquino: "Para quem acredita, nenhuma explicação é precisa; para quem não acredita, nenhuma explicação é possível". Como Jesus disse: "Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome; e quem crê em mim nunca terá sede.".Mas também muitos dos participantes não são crentes, mas vieram a Lisboa movidos pelo amor, a fraternidade e a esperança que um evento destes proporciona. O entusiasmo e a emoção dos jovens são indescritíveis..Está igualmente de parabéns toda a organização e, sobretudo, a forma altruística como os milhares de voluntários se entregaram à sua missão, bem como todas as forças de segurança, que garantiram, até agora, que tudo corresse sem sobressaltos e confusões..Num tempo de incerteza, em que vivemos uma guerra na Europa, em que os populismos de Direita e de Esquerda ganham cada vez mais força; em que a situação económica é muito difícil para uma parte significativa da população; em que os desafios ambientais e de transição energética são gigantescos; em que a demografia nos conduz a sociedades cada vez mais envelhecidas; em que acolhemos migrantes nem sempre com a dignidade que o ser humano merece sempre; em que as redes sociais passaram a ser a principal fonte de (des)informação de muitas pessoas; em que o conhecimento e a ciência parecem ser cada vez mais desprezados; em que falta liderança, esperança e humanidade, nestes tempos tão difíceis, encontrar pelas ruas da nossa cidade centenas de milhares de jovens (e menos jovens, onde me incluo) cantando, rindo, orando, com uma esperança inaudita no futuro e com Fé, deve fazer-nos refletir profundamente..Os desafios que enfrentamos nesta década, a nível mundial, europeu e nacional, são enormes. A todos os que referi no parágrafo anterior, há ainda que somar a incerteza económica, o peso das dívidas e o efeito da inflação-subida das taxas de juro na solidez do sistema financeiro e na capacidade das famílias e das empresas em fazerem face ao serviço da dívida, bem como as "bolhas" especulativas que foram geradas no setor financeiro e imobiliário, não apenas nos EUA e Europa, mas também na China..Mas também o risco de novas pandemias e doenças, a pobreza extrema que ainda afeta, pelo menos, 10% da população mundial, a crise alimentar, o retrocesso da globalização. E ainda a emergência de um conflito (mesmo que para já ainda comercial) entre a potência emergente (China) e a potência incumbente (Estados Unidos) (a "armadilha de Tucídides"); a dúvida sobre como a China irá evoluir e a questão de Taiwan; a ascensão da Inteligência Artificial e os desafios que coloca à Humanidade..Nestes tempos difíceis, com estes, e outros, enormes desafios, fica uma mensagem não apenas de Fé, mas sobretudo de Esperança. Terá de ser possível colocar um ponto final nos muitos conflitos que grassam em diferentes locais. Terá de ser possível enfrentar a ameaça climática, recuperar o tempo em que as pessoas tinham esperança de que o seu nível e qualidade de vida iriam melhorar, com mercados livres e inovação tecnológica. Teremos de vencer a crise, que Martin Wolf designa no seu último livro pela "crise do Capitalismo Democrático". Temos todos de trabalhar para que seja possível construir um mundo em que se cumpra o mandamento não-escrito: "Darás aos teus filhos mais e melhor do que recebeste dos teus pais"..Presidente da bancada parlamentar do PSD