Os sistemas de saúde enfrentam cada vez mais dificuldades, que se traduzem em maiores desafios e exigências, com o envelhecimento da população e com o aumento do diagnóstico de doenças crónicas ou outras condições de vida possivelmente limitantes. A doença oncológica revela-se, atualmente, como uma das prioridades nos programas nacionais de saúde por toda a Europa. Há uma clara necessidade de investimento na prevenção, no diagnóstico e no acompanhamento dos sobreviventes de cancro. Além disso, entramos na era da "medicina personalizada", que traz novos conceitos, novos tratamentos e cada vez mais especificidade e complexidade. Torna-se, por isso, fundamental assegurar cuidados especializados que tragam melhores resultados para as pessoas com doença oncológica..Quem o diz é a Organização Europeia de Cancro (European CanCer Organisation-ECCO), no seu parecer emitido em 2017, sobre a importância e a necessidade da existência da Enfermagem Oncológica como uma especialidade reconhecida em toda a Europa. Sabe-se, com o trabalho de investigação que tem vindo a ser desenvolvido pela Sociedade Europeia de Enfermagem Oncológica (EONS), que nos países com uma prática de enfermagem especializada existem melhores resultados de segurança e qualidade dos cuidados para as pessoas com cancro. Em Portugal, a Enfermagem Oncológica ainda não é reconhecida como especialidade, embora pareçam começar a existir avanços, pela Ordem dos Enfermeiros, nesse sentido. Mas não basta, apenas, reconhecer formalmente a especialidade. Para que isto aconteça, necessitamos de educação e formação avançadas, de uma carreira estruturada e da integração dos enfermeiros nas equipas multidisciplinares. Trabalho interdisciplinar - onde cada disciplina/área tem a sua função, mas todas se devem complementar - é um dos principais fatores para assegurar melhores resultados para as pessoas com cancro. Foi precisamente por isso que neste ano, pela primeira vez, a Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO) realizou o seu congresso anual em parceria com a Sociedade Europeia de Enfermagem Oncológica. Tornou-se claro que a área Oncológica requer cada vez mais especialização e que o papel da enfermagem é de extrema relevância no sucesso e na forma como as pessoas com doença oncológica e os seus cuidadores experienciam a doença. Tal como o cirurgião de mama, de colorretal ou de tumores urológicos ou o oncologista que se especializa cada vez mais num ou dois tipos de cancro, também a enfermagem oncológica começa cada vez mais a especializar-se, com profissionais de referência para os diferentes tipos de tumores..Necessitamos, igualmente, de integrar o conceito de "cuidados de saúde centrados na pessoa" nos nossos cuidados e sistema de saúde e, nisso, a enfermagem tem um papel pivô, dada a sua contribuição e presença no percurso da pessoa com doença oncológica. Precisamos de reduzir ineficiências, assegurar a continuidade dos cuidados e ir ao encontro daquilo que as pessoas necessitam e que, na maioria das vezes, vai muito além do tratamento. Precisamos de educação/formação e investimento em cuidados de enfermagem especializados, para benefício dos sistemas de saúde mas, sobretudo, das pessoas com doença oncológica. Daí que este reconhecimento (da Enfermagem Oncológica como especialidade) seja, também, amplamente defendido pelas próprias pessoas com cancro e organizações que as representam..Segundo as recomendações da Sociedade Europeia de Enfermeiros Especialistas, o Enfermeiro Especialista em Oncologia terá, depois do curso base (que em Portugal é uma Licenciatura em Enfermagem), de ter formação avançada em Oncologia, tempo alocado de estágio em unidades de oncologia e prestar cuidados, no seu contexto profissional, a pessoas com doença oncológica. Em Portugal, existem já contextos nos quais enfermeiros especialistas, com formação em Oncologia, assumem o papel de Enfermeiro Coordenador de Cuidados Oncológicos, como é o caso dos serviços de oncologia da CUF Instituto de Oncologia, em diferentes unidades CUF. Estes enfermeiros integram a equipa multidisciplinar de unidades que diagnosticam e tratam determinado tipo de cancro. Prestam cuidados de enfermagem especializados às pessoas com determinada doença oncológica, desde o momento do diagnóstico, até à fase de sobrevivência ou cuidados de suporte ou paliativos. Acompanham a pessoa com cancro e cuidadores regularmente, estabelecendo planos de cuidados individualizados e assegurando a continuidade de cuidados..A 17 de novembro, este tema - Enfermeiro Coordenador de Cuidados de Oncologia - e também o tema do Reconhecimento Europeu da Especialidade em Enfermagem Oncológica, além de outros, relevantes, no âmbito da prática da enfermagem oncológica, serão abordados no 1st Update in Oncology Nursing, promovido pela CUF Instituto de Oncologia e Academia CUF. Pretende-se contribuir para a análise, a reflexão, a discussão e a partilha acerca das últimas inovações no acompanhamento e abordagem à pessoa com cancro e realçar o papel fundamental da enfermagem oncológica no percurso do doente e na equipa multidisciplinar..Enfermeira da CUF Instituto de Oncologia e membro da European Oncology Nursing Society