Quando o som já não era novidade tecnológica para o cinema em Hollywood, o resistente mudo Charles Chaplin sabia que não podia regressar nem como vagabundo tagarela, nem com um musical colorido em Technicolor ao estilo de O Feiteiceiro de Oz (1939). Enquanto as tropas alemãs entravam em Paris, o autor terminava aquele que era o seu a primeira grande paródia de Hitler - O Grande Ditador (1940), que realiza, interpreta, escreve, produz e ajuda a compor a banda sonora. Sem qualquer pudor, Chaplin atacava diretamente o regime nazi ao duplicar-se na personagem de um modesto barbeiro judeu (com uma atitude reminiscente das interpretações nos filmes mudos) e como o tirânico Hinkel-Hitler, que incita a chacina dos judeus e se envolve em batalhas de bolos de creme com Mussolini. Embora tenha sido o mais popular dos seus filmes, Chaplin recebeu acusações de incentivo ao belicismo e ao antiamericanismo, hostilidades que marcariam a sua obra no futuro. O historiador Georges Sadoul relembra: já no tempo do isolacionismo norte-americano, o autor sabia que "o riso é um meio legítimo contra os tiranos"..Mas foi só quando soube do horror dos campos de concentração que Chaplin declarou, na sua autobiografia, ter-se arrependido de ter realizado O Grande Ditador. 70 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial - que é relembrada a 27 de janeiro, data que as Nações Unidas instituíram como o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto -, as salas de cinema continuam a dar lugar a cruzamentos com um passado trágico que são vividos em coletivo. Para além da reposição do clássico de Chaplin em restauro digital (no Cinema Ideal, a partir de quinta-feira), a Midas vai estrear três documentários a propósito da efeméride. Ao mesmo tempo, filmes como Invencível, de Angelina Jolie sobre o atleta olímpico e prisioneiro de guerra Louis Zamperini, ou O Jogo da Imitação, onde Alan Turing tenta descodificar comunicações entre nazis, continuam a chamar a atenção da Academia..Leia mais na edição impressa ou no e-paper do DN