A Hora do Lobo

Leia as críticas de João Lopes e Inês Lourenço ao novo filme do francês Jean-Jacques Annaud
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JOÃO LOPES (2/5)

Filmando os lobos da Mongólia

Como Jean-Jacques Annaud gosta de dizer, filmar animais pode ser tão fácil (ou tão difícil) como dirigir um estrela de Hollywood... Com este Wolf Totem (o título português remete-nos, inadvertidamente, para a obra-prima de Ingmar Bergman, datada de 1968), Annaud enfrenta um desafio muito especial, porventura ainda mais complexo do que aquele que esteve na base do seu filme O Urso (1988). Trata-se, agora, de colocar em cena o confronto entre os pastores da Mongólia e os lobos que lhes destroem os rebanhos, tendo como personagem central um professor que, em plena Revolução Cultural maoísta, tenta garantir a sobrevivência de um pequeno filhote de lobo... Aplicando um simbolismo "ecológico" mais ou menos previsível, o filme vive, sobretudo, dos riscos envolvidos na encenação das situações com os animais (que são muitas e, por certo, em termos logísticos, muito complexas). Sublinhe-se, em particular, o facto de, em plena era de consagração dos efeitos especiais, Annaud não abdicar da dimensão mais física das acções.

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INÊS LOURENÇO (2/5)

O regresso de Annaud à natureza selvagem

Depois de ver A Hora do Lobo, não se tem noção de que o protagonista, um estudante de Pequim, tornou-se um ativista pela democracia na China, chegando a ser preso durante as manifestações na Praça Tiananmen, em 1989. É ele o autor do livro homónimo, autobiográfico, em que se baseia o filme de Jean-Jacques Annaud. E apesar disso, a produção é chinesa e traz-nos esta experiência de Jiang Rong na Mongólia, em 1967 (segundo ano da Revolução Cultural). Enviado para ensinar mandarim aos pastores - algo que não vemos - o jovem citadino descobrirá um fascínio pelos lobos que habitam a região, e que são alvo de um plano de abate.

Para nos dar a candura da relação do jovem com uma cria - que este tem esperança de domesticar, embora compreenda a natureza predadora do animal - Annaud afasta-se do teor político do livro. Além disso, tal como já acontecera com O Urso e Dois Irmãos (tigres), aqui o projeto elementar é a vida selvagem dos lobos, anulando-se francamente a espessura das figuras humanas. Assim, os ataques em alcateia são o grande investimento coreográfico e emocional, à procura do épico.

Título Original: Wolf Totem

Realizador: Jean-Jacques Annaud

Ano: 2015

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