Uma mulher à frente do Ciudadanos? A história espanhola de Inés Arrimadas
Adepta do FC Barcelona desde pequena, Inés Arrimadas cedo aprendeu o hino do seu clube do coração. E foi a ouvir o então capitão Pep Guardiola que se apaixonou pela língua catalã. A adolescente vivia então em Jerez de la Frontera, com os pais e os quatro irmãos. O mais velho nascera em Barcelona, onde os pais viveram nos anos 1970, depois de se terem mudado da sua Salamanca natal e antes de se fixarem na Andaluzia.
O futebol sempre agradou a Inés, que os colegas recordam como uma maria-rapaz de conversa fácil e pouco amante de maquilhagens ou saltos altos. Hoje, aos 38 anos, a imagem é mais polida, mas continua a praticar desporto. Basta ir ao seu Instagram para ver as muitas fotos das corridas e algumas idas ao ginásio. Formada em Direito e Gestão de Empresas em Sevilha, Inés começou a carreira como consultora. E foi para estar mais perto da sede da empresa Daleph que em 2008 se mudou para Barcelona. Um dia uma colega levou-a a um comício do Ciudadanos. Identificou-se com a mensagem e acabou por se tornar militante. De líder da Juventude do partido a deputada no Parlamento catalão foi um instante.
Foi nos bancos do Parlamento que conheceu Xavier Cima, um deputado independentista por quem se apaixonou. Casaram-se em 2016 e esperam agora o primeiro filho. E se ele deixou a política, ela mostrou que se enganam os que viram nela apenas uma jovem franzina: assumiu a liderança da oposição catalã, respondendo a comentários machistas e ataques políticos com a mesma calma e frieza. Em 2017 levou o Ciudadanos à vitória nas eleições regionais e em fevereiro deste ano mudou-se para Madrid, onde em maio, um mês depois de ter sido eleita deputada nacional, assumiu o cargo de porta-voz do Ciudadanos no Congresso.
Formado em Direito, nos anos 1960 foi um Rufino Arrimadas de 22 anos que se mudou com a mulher para Barcelona, onde arranjara emprego como polícia. O casal instalou-se num apartamento na Praça de Tetuán. Rufino, que aprendeu a falar um catalão quase perfeito, conciliava o trabalho de agente da polícia científica com umas horas num escritório de advogados. Foi em Barcelona que em 1969 nasceu o primeiro filho do casal. No ano seguinte mudaram-se para Jerez de la Frontera, onde a família de Inés tinha negócios.
Foi em Salmoral, uma aldeia com uns 150 habitantes, a 50 quilómetros de Salamanca, que Rufino Arrimadas conheceu Inés García. Filhos da terra, ali se casaram e começaram uma vida em comum que os havia de levar da sua Castilha e Leão natal à Catalunha e depois à Andaluzia. Ali em Salmoral pode encontrar-se uma Rua Rufino Arrimadas. Não em honra do pai da atual líder do Ciudadanos na Catalunha, mas sim de um antepassado deste que nos anos 1930 foi secretário do governo regional. A família teve pelo menos mais um político: Moisés Arrimadas Esteban, primo do pai de Inés, que foi delegado provincial em Cádis nos anos 1960 e governador civil de Cuenca e Albacete na década seguinte.
Aos 33 anos, Rufino Arrimadas deixou a polícia e dedicou-se a tempo inteiro à advocacia, tendo montado o seu próprio escritório em Jerez de la Frontera em 1970. Foi na Andaluzia, a 20 quilómetros de Cádis, que nasceram os outros quatro filhos do casal. Inés, nascida a 3 de julho de 1981, é a mais nova. Talvez por isso cedo aprendeu a impor-se. "Não se calava nem debaixo de água", recordaram os pais ao El Mundo em 2015. E com três irmãos rapazes, não espanta que a infância de Inés tenha tido mais futebol do que bonecas. Adepta do FC Barcelona desde pequena, ela própria gostava de jogar. E foi a ouvir Pep Guardiola, capitão do clube nos anos 1990, que se apaixonou pela língua catalã. Faladora mas tímida, esta excelente aluna tornou-se uma adolescente que ouvia Led Zeppelin e nunca se achou bonita.
"O Direito sempre me fascinou: a dialética, rebater argumentos", confessava Inés Arrimadas em 2015. Por isso decidiu seguir as pisadas do pai, deixando para trás o sonho de ser arqueóloga. Aos 18 anos, em 1999, mudava-se para Sevilha para tirar o curso de Direito e Gestão de Empresas na Universidade Olavide. E se a política estava longe dos seus horizontes, os colegas, como Serafin Mariscal, delegado da turma de Inés, garantem que a jovem universitária já era "muito de perguntar, de saber o que se passava". E em declarações ao El Español, Mariscal recorda ainda como Inés era "boa a argumentar". Com o diploma na mão, em 2004 esta voltou a Jerez, onde trabalhou como consultora para o Grupo Mat e depois para a Daleph. Foi ao serviço desta que acabou por se mudar para Barcelona quatro anos depois.
Foi uma colega de trabalho que em 2010 levou Inés Arrimadas a um comício do Ciudadanos. Chegada à capital catalã há dois anos e depois de um curso intensivo para melhorar o catalão, esta poliglota (fala ainda inglês e francês, além de castelhano) hesitou mas lá foi. "Gostava do partido, gostava da forma como Albert Rivera falava", explicaria Inés mais tarde. Um ano depois era militante e porta-voz da Juventude dos centristas. Foi nesse papel que chamou a atenção de Rivera, que a ouviu na rádio e a convidou para assumir mais destaque no partido. Eleita deputada em 2012, foi no Parlamento que conheceu Xavier Cima, ele próprio deputado, mas independentista. Os dois casaram-se em 2016, tendo ele deixado a política entretanto. O casal espera agora o primeiro filho. Depois de assumir a liderança da oposição durante dois anos, em dezembro de 2017, a candidata do Ciudadanos foi a mais votada nas regionais. Sem maioria para formar governo, teve de ficar na oposição. O salto para a política nacional era inevitável. Em fevereiro passado mudou-se com o marido para Madrid. Eleita deputada nacional nas eleições de abril, em maio assume a função de porta-voz do Ciudadanos no Congresso. Agora, depois do descalabro do Ciudadanos nas eleições de domingo - nas quais passou de 57 para dez deputados - e da consequente demissão de Albert Rivera da liderança da formação que fundou há 13 anos, Arrimadas surge como a sua sucessora natural. E a candidata que conta com mais apoios internos. A começar pelo de Begoña Villacís, a vice-presidente da Câmara de Madrid, apontada como sua possível número dois. E, apesar da sua proximidade a Rivera, Arrimadas conta desde já com o apoio do eurodeputado Luis Garicano, principal crítico interno do agora ex-líder.