O confronto entre o governo e a Assembleia da República, devido ao reconhecimento dos nove anos quatro meses e dois dias reivindicados pelos professores, pode ter resultado numa crise política. Mas, no plano das escolas, a perspetiva é de um final de ano letivo mais tranquilo, face à provável anulação da greve às avaliações que os sindicatos de professores tinham agendado para o mês de junho.."Parece-me que os sindicatos conseguiram aquilo que queriam", diz ao DN Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP). "Aquela nuvem negra que pairava no ar, e da qual vínhamos falando desde setembro, parece estar-se a dissipar", considera. "Mas não sabemos se não vão chegar outras", acrescenta, lembrando que parte substancial do tempo de serviço a devolver - mais de seis anos - terá ainda de ser negociada com futuros governos.."Obviamente que há aqui razões para libertar essa pressão que existia da parte dos sindicatos", concorda Jorge Ascenção, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais, que, ainda assim, opta pela mesma cautela em relação ao futuro. "Naquilo que pode ser a implicação para as escolas, a própria motivação dos docentes, pode ser positivo", diz. "Agora veremos quais são as consequências práticas de tudo isto. Esperemos que não seja ainda pior, criando-se uma expectativa demasiado alta."."Conhecendo o governo que temos...".Da parte das organizações sindicais não existem, para já, compromissos em relação ao cancelamento da greve de junho. Os sindicatos têm até ao dia 22 de maio para emitirem os pré-avisos de greve, cujo início está previsto para o dia 6 de junho, e querem garantir que o Parlamento concretiza os compromissos que assumiu.."O texto final do DL 36/2019 [que define o tempo de serviço a recuperar] ainda não foi divulgado e será, ainda, submetido a votação em sessão plenária do Parlamento, pelo que será ainda prematuro tomar quaisquer decisões", justificou a Fenprof, numa resposta do seu secretariado nacional enviada ao DN. "O assunto será debatido oportunamente com as outras organizações sindicais de docentes, bem como na reunião do Secretariado Nacional da Fenprof nos dias 9 e 10 de maio. Só depois disso, e sendo clara a solução final, haverá uma posição sobre as lutas, designadamente a greve às avaliações a partir de 6 de junho", explicou. A única certeza é de que, aconteça o que acontecer, se mantém a manifestação nacional convocada para dia 5 de outubro: "Essa está decidida.".Também Júlia Azevedo, do Sindicato Independente dos Professores e Educadores, assumiu cautelas em relação ao fim dos protestos. Assumindo as "vitórias importantes" dos docentes, a sindicalista lembra que há questões que ficarão ainda em aberto: "Conhecendo o governo que temos, e o conceito de democracia que está aqui visto - desrespeitaram a casa da democracia -, teremos de ver como serão estas negociações para os seis anos e meio [que faltará repor].".Ainda assim, caso o Parlamento não recue no que decidiu, é praticamente certo o cancelamento da greve. "Temos reunião da Comissão Executiva no próximo dia 9", disse ao DN João Dias da Silva da Federação Nacional de Educação (FNE). "Aquilo que levarei como proposta para a reunião será que, se se mantiver esta situação, não haja para já a marcação das greves que estavam anunciadas", confirmou..Ironicamente, aquele que tem sido um ano letivo particularmente tenso entre os professores e o governo poderá assim terminar com uma calma que já não se verificava há mais de dois anos. Depois de um ano de 2016 de "estado de graça" na relação entre as partes, 2017 e 2018 ficaram marcados por muitos protestos dos docentes. Nomeadamente na reta final do ano. Em 2018, milhares de alunos tiveram as notas adiadas pela greve às reuniões de avaliação.