Estávamos em 2006 - cinco anos antes da primeira temporada de A Guerra dos Tronos - quando Nuno Braga viu pela primeira vez um dos livros da saga escrita por George R. R. Martin. Aluno de Erasmus na Eslovénia ficou sem livros para ler. O seu colega de casa esloveno, que tinha uma vasta biblioteca de livros de fantástico, entregou-lhe alguns dos seus livros preferidos para ler. Assim começou a ler a saga em inglês, gostou, mas acabou por não ler mais nenhum dos volumes. A Guerra dos Tronos teve de esperar pelo regresso.."Quando voltei para Portugal fui atrás da saga e descobri que o site da editora Saída de Emergência tinha sempre descontos e se comprássemos três um era de borla. Assim, fui ler o primeiro em português que já não me lembrava. Começava à meia-noite e às duas já tinha lido, fiquei viciado e fui comprando, até haver livros. Tenho os oito referentes aos quatro em inglês", recorda o fã de 34 anos..Mariana Costa leu os livros before it was cool ("antes de estar na moda", em português). "Graças à minha irmã que é uma livróloga assumida especialmente de livros de fantasia. Aconselhou-me esta saga e eu gostei muito de ler o primeiro, mas não fui de ler todos de madrugada, fui lendo. Nos últimos volumes a série já estava a dar." Mariana e Nuno são casados e acabaram por só ligar à série depois de o guião ter ultrapassado os livros publicados, o que aconteceu na temporada 6. "A série só comecei a partir do momento em que terminava o equivalente aos livros. Uma das minhas personagens favoritas estava em risco eminente de morrer, o Jon Snow - até sei a página em que ele morre -, e precisava de saber o que lhe ia acontecer. A partir daí agarrei-me à série", explica a enfermeira..O marido, chefe de secção numa multinacional, confessa que tentou resistir à série "para manter a ideia dos livros". Até que "chegou a última temporada, que ainda era dos livros, e eu pensei que queria ver como ia acabar". Ainda assim não resistiram a ver alguns dos momentos mais emblemáticos da série, "os episódios mais sangrentos, no fundo". Certo é que mesmo a meio "fomos ficando agarrados à série"..O melhor dos livros e da série.Como em todos os livros adaptados ao ecrã a pergunta que se impõe é se se gosta mais dos livros ou da série. E neste caso a resposta não é óbvia. Talvez porque a história foi evoluindo para lá dos livros - os dois últimos volumes da saga ainda não estão concluídos e nem há datas para o seu possível lançamento - e os fãs queriam saber como ia continuar e já agora quem se senta por último no trono de ferro..Atenção, a partir daqui começam os verdadeiros spoilers para quem nunca viu a série. Um problema tão sério que levou a editora Saída de Emergência e a agência Coming Soon a lançar uma campanha divertida sobre os spoilers.."Sem dúvida, prefiro a história dos livros. É mais rica e complexa, com personagens e famílias bastante mais exploradas. Mas é natural que assim seja, pois uma série tem de seguir um ritmo adaptado à TV, ao passo que os livros permitem uma narrativa mais longa, com menos restrições." Com exceção disso, Paulo Batista admite ter ficado surpreendido precisamente com os momentos que já não vêm nos livros, mas mantiveram o interesse na história. "O regresso à vida por parte do Jon Snow, a revelação da história do Hodor, que é talvez um dos mais surpreendentes momentos da série, ou a revelação de Jon Snow como sendo verdadeiramente Aegon Targaryen.".Para Mariana Costa, de 34 anos, o mais difícil depois de ver a série foi continuar a "imaginar Tyrion Lannister como um ser grotesco". "Nos livros, as pessoas nem conseguem olhar para ele de tão deformado e grotesco e depois o Peter Dinklage faz a personagem com tanto estilo que é difícil voltar a pensar na personagem descrita nos livros.".Nuno acrescenta que as outras raças expostas no livro são menos humanas do que aparece na série. "Os dothraki são seres diferentes, não sei se por falta de dinheiro, decidiram manter tudo mais humano, e isso foi o que mais me desapontou.".Mas também houve momentos surpreendentes: "Era impensável ver o Jon Snow com a Deanerys", admite Mariana..As expectativas para o fim.Paulo Batista, mais fã das letras do que da imagem, acredita que a série ter continuado para lá da história publicada prejudicou "a qualidade do argumento". Acrescenta: "Mas sobretudo fico desiludido com o ritmo alucinante da última temporada em que se encerram capítulos de forma vertiginosa. O que é fascinante e fator de sucesso da série é o jogo de poder, a intriga e a imprevisibilidade da história. Creio que isso se perdeu nos últimos episódios.".Esta é uma queixa já muito comum dos fãs da série. Mariana Costa contornou isso construindo expectativas à medida que via episódios: "A história em relação aos livros já deu mil e uma voltas." E agradece à série ter-lhe mostrado "a humanidade dos personagens", coisa difícil de imaginar com a leitura. Além das paisagens: "Leva-nos a conhecer locais espetaculares." Para o último episódio da série não esperam menos do que "um final surpreendente". Manter "as expectativas em baixo" é o truque de Nuno para garantir que não fecha este capítulo desiludido. Tem apenas uma certeza: "Já imaginei todos os cenários, por isso não vai ser surpresa.".Expectativas em baixo é coisa que Paulo Batista não tem. "Estou completamente às escuras. Não espero um final feliz, mas espero sobretudo que seja conclusivo e surpreendente." Para a madrugada de segunda-feira e "como fã a acompanhar a série durante todos estes anos, não quero terminar com uma história em aberto, ou com algo demasiado óbvio"..Depois desta segunda-feira, resta aos fãs da saga esperar pelas já prometidas prequelas da série ou pelos também prometidos livros de George R. R. Martin. Nuno Braga não acredita que o escritor vá acabar os livros. "É um preguiçoso", brinca. Além de que, mesmo que os acabe, o fim, acredita, terá de ser igual ao da série. Já em relação às possíveis novas séries televisivas, não esconde que vai querer "espreitar"..Mariana não só está convencida de que vêm aí mais livros como vem aí uma prequela sobre o Rei da Noite, uma história que "ficou por explicar"..Naturalmente, a editora portuguesa do autor espera novos livros e que estes "contem uma história ligeiramente diferente e explorem as personagens e as casas com todo o detalhe que caracterizou os livros até aqui". Paulo Batista quer "saber mais sobre Cathelyn Stark [que nos livros ainda está viva], ou sobre a evolução das casas Martell ou Greyjoy que foram relegadas para segundo plano nos ecrãs. Tenho a certeza de que George R. R. Martin fará um trabalho exemplar, só resta aguardar ansiosamente pela data".