É um Congresso mais feminino, diverso e jovem aquele que a 3 de janeiro toma posse em Washington DC. Mas basta olhar para as fotos dos novos membros da Câmara dos Representantes para perceber que essa juventude e diversidade vem sobretudo do lado dos democratas. Recuperado o controlo na Câmara dos Representantes nas eleições intercalares de novembro (o Senado viu reforçada a maioria republicana), a oposição promete não facilitar a vida ao presidente Donald Trump na segunda metade do seu mandato - seja ao recusar o financiamento do muro na fronteira com o México ou alimentando a investigação à ligação da equipa Trump à Rússia, uma investigação que ameaça chegar ao próprio presidente. Objetivo final: voltar a pôr um democrata na Casa Branca dentro de dois anos.."Vai ser uma transformação para o Congresso quando reduzirmos o papel do dinheiro e amplificarmos a voz dos americanos comuns para que saibam que são ouvidos", afirmou à CNN Nancy Pelosi, a veterana que apesar de uma rebelião interna tem quase garantido o lugar de speaker da Câmara dos Representantes, o terceiro mais alto cargo político na América. A líder dos democratas recordava em finais de novembro que "a supervisão é responsabilidade do Congresso. A administração vai tentar dizer que supervisão é investigação. Mas não, a supervisão é nossa responsabilidade. Vamos honrar as nossas responsabilidades"..Essa supervisão passa por não deixar escapar incólume uma eventual ligação entre o presidente e a ingerência russa para o levar à Casa Branca. E se durante a campanha para as intercalares os democratas evitaram a palavra impeachment, com a nova maioria na Câmara dos Representantes, a perspetiva volta a estar em cima da mesa em 2019. Mesmo se todos sabem como é difícil conseguir os dois terços de votos no Senado. Até hoje só três presidentes foram alvo de um processo de destituição - Andrew Johnson em 1868 e Bill Clinton em 1998 foram salvos pelo Senado. Richard Nixon em 1974 demitiu-se antes, para evitar a destituição..O financiamento do muro com o México levou a nova paralisação parcial do governo neste final de 2019 e parece difícil imaginar os democratas a desbloquearem os 25 mil milhões de dólares que se estima ser o custo da obra. Quanto à investigação liderada pelo procurador especial Robert Mueller, já custou a liberdade a vários antigos colaboradores de Trump, do ex-advogado Michael Cohen ao ex-gestor de campanha Paul Manafort. Com menos de um terço da equipa original ainda ao seu lado, Trump começa o ano com mais uma saída, a do secretário da Defesa, James Mattis, que sai em choque com as políticas do presidente. Para os que sonham destituir Trump, a esperança é que as revelações dos ex-colaboradores levem os investigadores a concluir que o presidente se envolveu nalgum tipo de fraude..Estrelas em ascensão.Entre os novos congressistas, várias figuras ganharam destaque, de Rashida Tlaib e Ilham Omar, as primeiras muçulmanas eleitas para a Câmara dos Representantes, a Sharice Davids, a primeira nativa americana. Mas a estrela mais mediática é Alexandria Ocasio-Cortez. A filha de um porto-riquenho, nascida no Bronx, é, aos 29 anos, a mulher mais jovem alguma vez eleita para a Câmara. Latina e de esquerda, representa a chegada dos millennials a Washington: queixou-se de não ter dinheiro para uma casa na capital e publicou todos os momentos da primeira visita ao Capitólio no Instagram..Tanto sangue novo não impede que o Partido Democrata se encontre diante de um dilema. Que tipo de candidato quer apresentar às presidenciais 2020. Uma corrente inclina-se para alguém jovem, progressista, com ideias radicais e mais à esquerda. Apesar das propostas moderadas, Beto O'Rourke, o homem que em novembro quase tirou a Ted Cruz o lugar de senador e provou que o Texas pode virar azul, encaixa neste perfil. E aos 46 anos, a verdade é que este homem nascido em El Paso e fluente em espanhol ainda não rejeitou a candidatura. Outra ala prefere um candidato mais experiente, moderado e capaz de apelar ao centro e a essa classe média que em 2016 se deixou seduzir por Trump. O ex-vice-presidente Joe Biden ou a senadora Elizabeth Warren são nomes fortes para este perfil.."Temos aqui um contraste entre esta nova geração e políticos que representam, de certa maneira, o velho establishment democrata no corredor nordeste dos EUA", explicava ao DN Luís Nuno Rodrigues após as intercalares. Para o diretor do CEI-IUL do lado republicano, o partido deve cerrar fileiras em torno de Trump para 2020, deixando pouca margem para um desafio interno. Resta saber se ele resiste até lá.