A freira que pintou Assunção Esteves e o Papa Francisco
Filha única numa família culta da classe média alta espanhola, Isabel Guerra começou a pintar aos 12 anos, de forma autodidata. "Tudo começou quando no meu aniversário me ofereceram uma caixa de óleos e eu senti uma felicidade inexplicável", recordou numa entrevista, no ano passado, a propósito de uma exposição no Retiro, em Madrid.
Contava também como era "uma criança rebelde" que, apesar de admirar Velásquez, passar muitas horas a estudar os grandes mestres no Museu do Prado, frequentar exposições e ler livros sobre arte, se recusava a imitar outros pintores ou estilos e queria seguir o seu próprio caminho. "O mais importante para criar o nosso próprio mundo é trabalhar intensamente", explicou.
Expôs pela primeira vez com 15 anos, na sala Toisón, em Madrid. No entanto, em vez de seguir a carreira de artista, aos 23 anos decidiu dedicar a sua vida à religião. A 12 de novembro de 1970 ingressou no Mosteiro de Santa Lucía, em Saragoça. Apesar de gostar muito de pintar, estava disposta a deixar a sua arte para se entregar a Deus, mas, afinal, descobriu que poderia continuar a produzir as suas obras no convento.
De um estilo mais impressionista evoluiu para o expressionismo e, por fim, aproximou-se do realismo ou do hiper-realismo, uma vez que muitas das suas pinturas quase se confundem com fotografias. Porém, mais recentemente, a freira Isabel começou a integrar em algumas das suas obras elementos abstratos e, por outro lado, também se dedica à pintura digital, o que só prova que a vida no convento em nada impediu a sua evolução como artista.
"O mosteiro é um lugar riquíssimo para a inspiração", diz. "O nosso modo de vida está orientado para a procura da beleza, para nós a estética é algo vital, procuramos a paz, a serenidade, um clima de silêncio e admiração pelo criador."
Isabel, hoje com 69 anos, tanto pode pintar temas religiosos como retratos de mulheres, paisagens, naturezas--mortas, ou aceitar encomendas para pintar o retrato de alguém - foi ela a artista escolhida por Assunção Esteves para pintar o retrato oficial da ex-presidente da Assembleia da República. Os homens estão praticamente ausentes da sua obra. Mas no próximo mês irá mostrar aquela que é a sua obra mais aguardada: o retrato do Papa Francisco. A encomenda foi feita para assinalar o 50.º aniversário da Conferência Episcopal.
A "monja pintora", como é conhecida em Espanha, é representada desde há 18 anos pela Galeria Sokoa. Em 2004, as suas obras valiam entre dois mil e dez mil euros. Hoje valem muito mais e podem chegar aos 50 mil euros. Para Isabel, "cada quadro tem a sua própria história e a sua vida e em cada um deles ponho todo o meu coração".