"A forma de música mais livre" 

Voz acetinada, como se cada frase fosse uma canção falada. Charenée Wade atendeu o telefone em Brooklyn, Nova Iorque, onde vive, e falou com o DN a poucos dias de entrar no avião para atravessar o oceano Atlântico.
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O seu último disco, Offering, é um tributo a Gil Scott-Heron. Porque decidiu fazer este trabalho?

O meu produtor é Mark Ruffin, ele queria ouvir versões deste projeto memorável de uma perspetiva feminina. Eu já conhecia alguns trabalhos do Gil e estava apaixonada pela mensagem e pela música dele. Passei uns meses a ouvir a biblioteca de música de Gil Scott-Heron e Brian Jackson e comecei a ouvir uns arranjos e decidi avançar. Acho que a música dele é muito importante, especialmente nos dias de hoje.

As versões que canta são muito diferentes das originais.

Sim, esperava que o fossem! Sou uma vocalista que foi criada primeiramente nos idiomas de jazz. O que fazemos é uma das ideias básicas do jazz, rearranjar, reimaginar uma peça de forma que ela se ligue à tua voz, de forma que seja uma extensão da tua voz, da tua expressão. Não é algo que seja perigoso, faz parte da nossa profissão. E é isso que adoro no jazz. Podemos pegar numa peça de música e criar algo completamente novo e reimaginar. Talvez, se tiveres sorte, expor outra camada daquela música.

Não canta The Revolution Will not Be Televised, um ícone de Gil Scott--Heron. Porquê?

Não. Essa já foi feita muitas vezes, queria apresentar canções que as pessoas que encontrassem Gil Scott--Heron pela primeira ou segunda vez nunca tivessem ouvido. As canções que escolhi são aquelas que realmente me prenderam. Senti que precisavam de ser ouvidas também e toda a gente conhece o Revolution.

Os lugares onde toca inspiram-na e essa inspiração entra diretamente na sua música?

Claro! De cada vez que toco, o público é diferente e eu gosto de pensar no público quando estou em palco. Esta música é música congregacional, não é só sobre quem está em palco, envolve as pessoas que estão a ouvir e a recebê-la. E eu tento que a audiência esteja envolvida o mais possível e cada vez que me levanto e toco é diferente.

É um luxo dos cantores de jazz?

É um luxo, sim. Porque parte do que fazemos é mudar coisas constantemente. Pode existir noutras formas de música mas não é tão livre. O jazz é a forma de música mais livre que existe.

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