A excentricidade de 2020: ir à escola para aprender
Este ano, cá em casa, as crianças - de 7, 10 e 12 anos - estão em escolas para todos os gostos. A privada, a de ensino artístico, a pública. Do primeiro, segundo e terceiro ciclo. Cada uma funciona à sua maneira e eu que ande de plano de contingência em plano de contingência.
Temos a escola que organizou uma reunião por zoom que durou duas horas, a que preferiu um encontro presencial e, finalmente, a que nem se dignou a mandar um mail ao encarregado de educação, mas entregou três máscaras a cada aluno.
Quando digo que há escolas para todos os gostos, é mesmo para todos os gostos - do mais hipocondríaco ao mais descontraído. Há a escola em que as carteiras têm acrílicos e desinfetam os sapatos à entrada, há a escola que não põe entraves à presença dos alunos no recinto fora as aulas mas repete à exaustão as regras da Direção-Geral de Saúde - distanciamento, mãos lavadas, máscara e etiqueta respiratória - e a que só permite que os alunos façam refeições na escola quando têm aulas à tarde e onde os pais nunca entraram.
E não é só nas escolas das minhas filhas.
Esta semana, o DN esteve em escolas de Braga, Rio de Mouro e Pombal e, mais coisa menos coisa, só há três temas na ordem de trabalhos: covid-19, novo coronavírus e SARS-CoV-2. É a bolha dentro da bolha.
Outra reação que abunda por estes dias é a de regozijo pelo reencontro com os amigos. Muito importante, sim, já que não é só nas salas de aulas que se aprende.
No entanto, e sei que é chocante, não estive à espera que os portões da escola abrissem para que as crianças brincassem com os amigos e não conto com a escola para isso. Da mesma forma, não resumo a vida social a encontros das miúdas com pessoas da sua idade.
Ora, uma vez que considero a abertura das escolas um muito almejado regresso à vida normal - e estou a usar esta expressão de propósito - tinha a esperança que, mesmo com tantos "não se pode, é o covid-19", se conseguisse começar o ano com aquela esperança que nos dão os livros novos - a sensação de que tudo é possível.
Portanto, e sem querer parecer ingrata, perante os enormes esforços para nos protegerem deste vírus, sabe-me a pouco o arranque deste ano letivo.
Além de regras sanitárias, valia a pena falar sobre o que é aparentemente uma excentricidade de 2020: esperar que as crianças vão à escola... aprender.
Atenção, tenho a certeza que os professores vão ensinar. Mas tudo isso parece ser secundário. Dá ideia que vamos mudar o confinamento da sala de estar para a sala de aula.
Depois de três penosos meses e meio de aulas à distância, é importante perceber o que vai ser feito nestas cinco semanas que o Ministério da Educação decretou serem para recuperar atrasos. Como garantir que ninguém fica para trás?