A espia que Marcelo nomeou para a segurança nacional
A assessora que Marcelo Rebelo de Sousa escolheu para a área da segurança nacional é uma espia com carreira nas secretas, mas que desempenhou funções similares no gabinete de Passos Coelho. Discreta desde que foi nomeada em março para Belém, Mafalda Gama Lopes destacou-se por seguir o Presidente em todas as ações do "Portugal Próximo", que decorreu entre 4 a 6 de julho em Trás-os-Montes.
No meio da comitiva presidencial, Mafalda Gama Lopes mostrou ser de poucas palavras, mas não passou despercebida, desde logo por ser uma novidade na equipa de Marcelo. A assessora seguiu sempre os passos do Presidente, apenas de telemóvel na mão e evitando aparecer nos planos captados pelas câmaras televisivas.
Já lá vão três meses em Belém, mas só agora foi para o terreno. A "espia" de Marcelo foi nomeada a 30 de março, num despacho em que é apenas dito que é "assessora da Casa Civil" e que pertence aos quadros do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP).
Fonte da Presidência explica ao DN que Mafalda Gama Lopes "desempenha as funções de assessora, ocupando-se principalmente de assuntos relacionados com a segurança nacional nomeadamente com o universo relativo à Administração Interna - Proteção Civil, PSP, GNR, SEF, e informação classificada - retomando assim o cargo já existente no mandato do anterior chefe de Estado".
O anterior Presidente da República, Cavaco Silva, escolheu para este mesmo cargo - que no seu tempo passou a depender da casa civil - um antigo secretário de Estado da Defesa: Abílio Morgado.
Quem é a espia de Marcelo
Foi o chefe da casa civil de Belém que sugeriu Gama Lopes a Marcelo. Fernando Frutuoso de Melo esteve entre 1987 e 2016, em Bruxelas, onde desempenhou vários cargos e foi na capital belga que conheceu Mafalda Gama Lopes.
No SIRP, a assessora de Marcelo era analista no departamento Europa-américa, uma estrutura do SIED (Serviço de Informações Estratégicas de Defesa), onde entrou 2002. Foi o ex-diretor Jorge Silva Carvalho que notou as suas capacidades enquanto analista dos assuntos europeus e à primeira oportunidade nomeou Mafalda Gama Lopes para ser "antena" do SIED em Bruxelas. "É uma ótima analista, inteligente, tem boa figura, fala fluentemente três línguas e tem uma enorme capacidade de relacionamento pessoal - tudo qualidades de uma boa espia", revela ao DN fonte das secretas.
Em Bruxelas foi para o lugar do espião Henrique Silva, próximo de Durão Barroso, que foi mais tarde afastado dos serviços e está atualmente da unidade de vigilâncias da PJ. Oficialmente, entre 2008 e 2010 foi conselheira para os assuntos de segurança e defesa na Representação Permanente de Portugal junto da União Europeia.
No gabinete de Passos Coelho era mais discreta do que com Marcelo. Era subordinada de Carlos Henrique Chaves, um general que aconselhava o então primeiro-ministro para as questões de Segurança Nacional. A experiência de analista e a capacidade de recolher e sistematizar a informação, que tinha trazido do SIRP, facilitavam-lhe o trabalho.
Preparava os dossiês, reunia informação e fazia todo o trabalho de background sobre os temas em discussão. Fontes da GNR e da PSP ouvidas pelo DN reconhecem a suas qualidades profissionais como espia, mas consideram que em matéria de forças de segurança "não domina bem as problemáticas".
Fonte do anterior governo conta ao DN que Mafalda Gama Lopes esteve "os quatro anos e meio de governo como assessora da área da segurança e defesa militar", mas "raramente ia para o terreno". A mesma fonte fala num "trabalho mais técnico, de gabinete", só indo mesmo a ações que se relacionassem com a área.
Fonte social-democrata explica que Mafalda Gama Lopes chegou ao governo de Passos Coelho por indicação do "já falecido Luís Fontoura, um antigo vice-presidente do PSD no tempo do Menezes, que apadrinhou a ida dela para o governo, pois ele conhecia-a do ISCSP [Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas]". O próprio despacho de nomeação para o executivo de coligação aponta que entre 1999 e 2008 Mafalda foi professora assistente no ISCSP. Quando o governo de Passos caiu, Mafalda Gama Lopes, voltou para o SIRP.
O DN tentou contactar Mafalda Gama Lopes através da presidência, que destacou que, "nesta qualidade, assessora da casa civil, a orientação tradicional é não conceder entrevistas aos órgãos de comunicação social." A Presidência acrescentou ainda que se trata de "um órgão unipessoal, com um único titular, o próprio Chefe de Estado."