A emergência da responsabilidade

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Portugal está em estado de emergência num combate difícil contra a covid-19, sendo absolutamente claro desde o início deste processo, há quase um ano, que a atitude individual é a peça-chave para ganharmos esta autêntica guerra.

Para o governo do país, liderar esta operação é seguramente uma tarefa hercúlea e muito complexa, e para as oposições a dificuldade, sendo diferente, é também muito relevante, deixando um campo de cultura fértil para os demagogos e os poluidores da democracia.

A baralhação causada por muitas medidas que vão sendo tomadas dificulta a perceção dos cidadãos. Eu posso ir à missa mas não posso ir ao teatro. Eu posso ir à drogaria mas não posso ir à sapataria. Eu posso ir tratar do cão e do gato mas não posso ir ao barbeiro ou ao cabeleireiro. Na anterior situação tinha mesmo de estar em casa às 13h00 ou às 23h00 e agora não tenho hora limite... entre tantas outras contradições.

Sabemos bem que a proteção individual, com a utilização da máscara, a lavagem e a desinfeção das mãos e o distanciamento social são as armas principais deste combate, sendo que as batalhas que vamos perdendo, como esta da terceira vaga, derivam de descuidos na família e em grupos de amigos.

Mas parece que não. Parece que é o trabalho e temos de ir para casa trabalhar. Parece que é a cultura e temos de acabar com a fruição cultural. Parece que é o pequeno comércio e podemos continuar a ir ao grande comércio. Parece que não é a escola mas as universidades continuam quase fechadas ao ensino presencial.

A verdade é que a responsabilidade individual e a responsabilização de forma pronta e eficiente de quem não é responsável é a única forma eficiente de ganharmos este combate. E o governo tem de atuar neste campo.

Para que essa verdade possa florescer, tem o governo de dar o exemplo, com a coragem e a coerência das decisões, com a assunção da responsabilidade política dos seus membros em situações muito graves como as que têm ocorrido ao nível da Justiça e da Administração Interna.

É urgente uma cultura de governo e de ação cívica responsável e responsabilizadora, para que possamos ganhar este duro combate e proteger a vida que se vai desprotegendo com a grave perda de capacidade de resposta dos Serviços de saúde hospitalar, por excesso de procura e pelo desinvestimento dos governos na saúde nas últimas duas décadas.

A emergência que vivemos tem de ser mais Responsável, por mais que alguns entendam que isso não é simpático nem dá votos, o que até pode ser verdade no imediato e curto prazo (o que eu não acho), mas não é verdade no médio e longo, e muito menos como arma útil para ganhar este combate em que todos estamos envolvidos.

Presidente da Câmara Municipal de Aveiro

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