Economista e chairman dos CTT, João Moreira Rato considera Centeno uma boa escolha para o BdP..O economista está preocupado com a questão social, mas acredita que temos instrumentos para sair bem da crise. Não vê com bons olhos uma TAP gerida pelo Estado, mas elogia a escolha de Mário Centeno para o Banco de Portugal..Vivemos uma crise sem precedentes e que no fim do ano ainda deve piorar com o fim dos lay-offs, moratórias, etc. O que é mais preocupante nesta crise?.O problema de desigualdade é muito preocupante, porque o vírus afeta muito mais as profissões de baixo valor acrescentado, as famílias mais pobres, as pessoas que não se habilitam facilmente ao subsídio de desemprego. Esse é o grande problema, a questão social, porque de resto os mercados reagiram lindamente....Nas fatias de cima não há tanto impacto....Quem tem ativos financeiros é quem é menos atingido pela crise. No imobiliário também não se antecipa grande impacto... Portanto quem sai pior disto são os que trabalham em atividades de baixo valor acrescentado e em setores muito específicos, como o lazer, o turismo, o desporto. Esse é o problema maior, a distribuição de riqueza. Na verdade, quando a doença desaparecer, estaremos numa situação melhor que nunca, com muito mais apoios públicos, uma política monetária muito mais acomodatícia, por isso teremos condições para nos levantarmos muito mais rápido..E essa política orçamental utra-expansionista vai durar?.Este plano de reconstrução europeia vai durar três ou quatro anos..Mas isso chegará - sobretudo para Portugal se levantar? .As estimativas que temos para Portugal são de recebermos 35 mil milhões de euros, são 17% do PIB a chegar em três anos... e é dinheiro que não é para pagar dívida, é para gastar. Na altura do plano da troika, havia uma parte de apoio que era para rolar dívida - e essa parte neste caso está assegurada pelo BCE..O papel do BCE é fundamental. .Sim, o programa de compra de dívida do BCE é impressionante e vai durar até ao verão que vem. No mínimo... a probabilidade de durar mais é enorme. E temos as taxas de juro a 0,4%. Isso também ajuda a explicar este desfasamento entre a reação do mercado e as preocupações que se sentem na sociedade..O mercado avaliou positivamente as medidas. .Sim, porque elas têm vários tempos. Temos as medidas para lidar com os problemas do confinamento - lay-off, empréstimos às empresas, moratórias -, que pretendem manter empresas e famílias vivas, para assegurar que não se de destrói demasiado emprego e capacidade produtiva e que as famílias ficam à tona de água. Depois, há as de transição (como o PEES, algumas do PSD, etc.), que visam normalizar a economia. E por fim temos as medidas pós-vírus, o fundo de reconstrução, que teve uma resposta ótima na Europa. O mercado está otimista e faz sentido porque abre-se aqui imensos precedentes, este fundo de reconstrução - que abre a hipótese de se financiar um programa a nível europeu que é entregue às autoridades domésticas sem ser sob a forma de dívida - é histórico..A Europa aprendeu com a crise financeira de há dez anos?.Acho que Angela Merkel sempre tomou decisões pró-Europa, sempre defendeu a permanência da Grécia, por exemplo, e o atual ministro das finanças alemão também é muito pró-europeu.... E Macron também tem os seus objetivos. E estamos num cenário fora do normal: há uns meses um investidor finlandês dizia-me que nesta fase tem haver solidariedade europeia, porque estamos a lidar com uma tragédia; não se põe o problema de cobrir indisciplina orçamental do passado, trata-se de uma crise de saúde que afeta todos, que é imprevisível e não tem nada que ver com ações de um país....Leia mais em Dinheiro Vivo a sua marca de economia