A culpa é do PSD!
Cavaco Silva insurgiu-se, ao seu estilo, relativamente à parte do discurso de António Costa na sua última tomada de posse como Primeiro-Ministro, que teceu duras críticas ao antigo Chefe de Governo e ex-Chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva. O timing, garante este último, respeitou e esperou pela aprovação do Orçamento de Estado para 2022.
O artigo "Fazer mais e melhor do que Cavaco Silva", publicado no Observador, conjugado com o momento político pós-eleições internas no PSD, deu lugar a uma entrevista na CNN Portugal. Segundo o entrevistado, apenas por favor, pela excecionalidade e por cortesia. Foi assim que ganharam eco mediático as últimas aparições de Cavaco Silva - ora escrita, ora visual e oral - sobrepondo-se ao alcance das notícias já decorridas do próprio Orçamento e, por alguns instantes, interrompendo a atenção sobre o Jubileu da Rainha Isabel II e fazendo um certo intervalo na cobertura da Guerra da Europa pelos meios de comunicação social em Portugal. Mereceu múltiplos comentários e reações, incluindo de António Costa, que concordou com a necessidade - que Cavaco desafiou - de fazer mais e melhor do que esse Governo e essa maioria.
Aníbal Cavaco Silva interveio, publicamente, no artigo de opinião, afirmando os seus direitos cívicos - e bem! Não deixa, contudo, de ser um antigo Presidente do PSD, antigo Primeiro-Ministro e ex-Presidente da República a fazê-lo. Se assim não fosse não assumiria expressão.
Há um vazio político que prevalece na Direita em Portugal - nesse campo ou espaço político que Cavaco não quer que se considere ideologia - que o PSD cavou desde a chegada de Rio à sua liderança. Foi assim que, por exemplo, o silêncio de Pedro Passos Coelho na plateia da Convenção do MEL - Movimento Europa e Liberdade, nesse encontro da(s) Direita(s), se tornou ensurdecedor, no ano passado, e, agora, o reaparecimento público de Cavaco Silva, além do seu conteúdo, se afigurou impactante na opinião pública, nos média e na opinião pública. A culpa é do PSD, mais do que de Cavaco, pois todos sabemos que se o PSD estivesse forte, o eco de Cavaco seria bem mais ténue, para não dizer bem mais fraco.
Resta saber o que Luís Montenegro vai conseguir acrescentar ao seu Partido, à Social Democracia (ou ao Liberalismo), à Direita portuguesa e ao país, prevendo-se que não passe de um líder partidário de transição. Se tornar o PSD mais forte, remeterá Cavaco ao descanso, ao sossego e ao silêncio, preservando os seus direitos cívicos ao recato e poupando a agenda mediática e a política aos seus sermões, regra geral, escritos.