A criança que aparece do nada e seduziu Alex Dahl

"Sempre quis ser escritora", diz Alex Dahl, a autora de<em> O Rapaz à Porta</em>, um policial que vem da Escandinávia mas evita repetir os truques habituais neste género literário.
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O romance de Alex Dahl que chegou às livrarias portuguesas é dos raros policiais nórdicos que não começa com a morte ou a violação de uma personagem do sexo feminino, o que faz que O Rapaz à Porta fuja à norma que alegadamente regula este género de literatura. A autora esteve em Portugal para o promover e revelou que foi o primeiro país a comprar os direitos de tradução, ainda antes das editoras de língua inglesa.

A razão de iniciar o seu policial de forma diferente é simples: "Queria fazer uma coisa diferente porque estou cansada de ver uma mulher morta mal começo a ler um livro." Porquê esta violência tão habitual nas histórias que vêm da Escandinávia? "Acho que as sociedades nórdicas são tão monótonas que as pessoas precisam de ler coisas que sejam o extremo das suas vidas. Se formos ver o que se faz nos Estados Unidos, onde há muita violência, percebe-se que preferem escrever e filmar comédias", explica.

Alex Dahl já escreveu um par de livros antes deste, mas só agora se sentiu confortável na história que passou a livro: "Tudo começa numa manhã em que pensei que não estava a gostar dos livros que andava a ler, sempre com uma mulher morta ou uma criança desaparecida. Sei que as pessoas gostam disso, no entanto questionei-me sobre se fosse o contrário: o aparecimento de alguém que surge do nada? Essa foi a ideia inicial e a partir daí quis escrever sobre um rapaz que aparece do nada e confunde uma mulher que está bem na vida. Ela é uma espécie de anti-heroína e eu queria que os leitores se preocupassem com as coisas más que acontecem a qualquer um."

É um livro muito diferente do primeiro thriller que publicou, com uma história de amor à mistura. Depois, escreveu outro diferente enquanto fazia um curso de escrita criativa, mas não o publicou: "Este livro, portanto, é quase o meu primeiro." Pergunta-se se enquanto escreveu O Rapaz à Porta acreditou no seu sucesso ou até se o escreveu de forma a ser comercial: "Não sei o que responder. Comecei a escrever no próprio dia em que tive a ideia e foram logo dois ou três capítulos. Senti que era uma coisa diferente, gostei da história e senti que era o livro que desejava fazer. Conforme foi ganhando forma, achei que até poderia ser 'comercial', mas não era essa a minha intenção. Quando houve uma resposta positiva por parte da editora, continuei a escrever sem me desviar do que considerava ser a melhor maneira de contar a história."

Apesar da diferença para com os policiais nórdicos, O Rapaz à Porta mantém algumas das suas tradições, como a de usar o cenário de uma pacata localidade fora das capitais: "Na Noruega, esta é uma cidade grande e onde vivi o suficiente para a poder aproveitar para a história. Uma terra em que é difícil penetrar na sociedade apesar de parecer que é tudo perfeito e bonito, mas o mesmo não acontece dentro das casas. Era inspirador."

A protagonista chama-se Cecilia e é uma das muitas mulheres que surgem no livro. Estranha-se que haja poucos homens na narrativa e os que existem não parecem fazer muita falta: "É verdade que quase todos os homens neste livro são bem comportados e o único que é mau é morto, mas não fica longe de uma espécie de retrato dos homens escandinavos."

Quanto à estrutura do romance, Alex Dahl só sentiu exigência de um plano já ia a meio porque "aconteceram coisas muito importantes e tive necessidade de as planear. Fiz uma paragem e organizei tudo, colocando pistas ao longo da narrativa para mais tarde o leitor confrontar-se com o seu desenvolvimento". No que respeita à pesquisa, o principal tema que necessitou de informação era o das drogas: "Uma personagem é dependente e eu sabia pouco sobre o assunto. Fiz entrevistas e informei-me. O mesmo aconteceu com o passado de alguns imigrantes da Polónia que aparecem na trama."

Fora essas duas partes mais desconhecidas, Alex Dahl construiu uma Cecilia à imagem das mulheres que conhece: "É mais fácil assim e inspirei-me nas conversas que ouvi de pessoas que conheço, mas nada no livro é verdadeiro - mesmo que o pudesse ser. Poderá parecer porque gosto de escrever na primeira pessoa; é melhor, mais imediato e intenso para mim. Enquanto escritora, temos de entrar na cabeça das personagens e como Cecilia é muito narcisista foi divertido imaginar o seu comportamento."

Porquê fazer a protagonista sofrer bastante? "Ela procurou soluções muito egoístas para a sua vida e é uma pessoa voltada apenas para si, que é o caso de muitas mães que organizam a vida em torno dos seus filhos. Os personagens vieram instintivamente, nem pensei como seriam. O rapaz foi mais fácil porque tinha dois filhos com uma idade próxima enquanto escrevia o livro e deu-me muito jeito ouvir as suas conversas. Claro que o menino do livro teve uma vida muito difícil e obrigou-me a pensá-lo com o seu próprio modo", refere.

O Rapaz à Porta

Alex Dahl

Editora Planeta

336 páginas

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