As luzes que começam a cintilar pouco a pouco na cidade do Porto demonstram que o fim do ano está próximo. Avenida dos Aliados iluminada, lojas abertas noite afora, população nas ruas, crianças encantadas com as prendas que virão. Para a grande maioria, aproxima-se o Natal. Para os judeus, é hora de celebrar Chanuká, que se iniciou ontem, dia 25 de Kislev no calendário hebraico..Num tempo em que as relações humanas são fugazes - cada vez mais intermediadas pelo digital -, a tradição é um contraste. Nos lares judaicos, o acendimento das velas de Chanuká é feito em família, juntando por vezes três gerações na mesma sala. As velas são acesas ao longo de oito noites seguidas. O Talmude ensina que está é uma época para prece e agradecimento..Nos Estados Unidos, na Federação da Rússia, na Turquia e noutros países, os Presidentes da República costumam acender uma das velas com as comunidades judaicas residentes. Certas comunidades têm o hábito de acender as velas em praça pública, enquanto outras, mais precavidas, recusam as exposições públicas. O receio de terrorismo é manifesto, mormente na Europa, onde viviam 10 milhões de judeus há poucas décadas, enquanto hoje não há mais de um milhão e meio..Os acontecimentos tão alegremente celebrados pelas comunidades judaicas do mundo inteiro ocorreram bem antes da Era Comum. Durante o período do segundo Templo de Jerusalém, os reis gregos e os seus poderosos exércitos obrigaram os judeus a aceitar a cultura greco-helenista, proibiram a prática religiosa judaica, usurparam os seus bens, roubaram as suas filhas e profanaram tudo o que era ritualmente puro. Chanuká comemora a vitória de uma pequena família judia, os Chashmonaim, e seus seguidores, sobre o fortíssimo opressor, o que levou à reconquista do Templo, à sua purificação e ao reacendimento das chamas do candelabro de sete braços que existia no interior de tão sagrado monumento..O reacendimento das chamas da menorá foi realizado com azeite puro de oliva de um pequeno vaso achado no Templo e a tradição judaica afiança que tão pequena quantidade de azeite queimou durante 8 dias, até que se prensassem azeitonas e um novo óleo puro pudesse ser produzido. No ano seguinte, os Sábios de Israel designaram esses oito dias como período de júbilo e louvor e que se acendessem luzes nas casas judias em cada uma dessas noites..Chanuká permite louvar o que é simples. No primeiro dia acende-se uma vela. A cada dia uma nova vela é adicionada, com mais iluminação e espiritualidade do que na noite anterior. Ao oitavo dia todas as velas estarão acesas. As crianças judias aprendem desde tenra idade que a vela "ajudante" - a que acende as demais - não diminui a sua chama por acender todas as outras, o que também vale para a bondade e para uma vida útil à sociedade, com liberdade, responsabilidade e desejo de um mundo melhor..Membro da Direção da Comunidade Judaica do Porto