A cantar é que a gente se entende

Depois do sucesso de O Meu Tio da América (1980), Alain Resnais teve uma década de grande fulgor criativo, explorando, em particular, uma série de derivações do registo melo- dramático: A Vida É Um Romance (1983), Amor Eterno (1984) e Mélo (1986) são alguns dos títulos que ilustram tal período.
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Pode dizer-se que É sempre a Mesma Cantiga ilustra ainda o mesmo gosto de colocar em cena o espaço conjugal, os labirintos das relações amorosas e, em particular, os equívocos gerados pelos desejos desencontrados das suas personagens. Com uma diferença que está longe de ser banal: as personagens cantam!

De facto, desta vez, os magníficos actores de Resnais (incluindo os fidelíssimos Pierre Arditi, Sabine Azéma e André Dussollier) não se limitam a falar... Em momentos insólitos e fascinantes começam a cantar, fazendo playback sobre temas muito conhecidos de gente tão diversa como Charles Aznavour, Gilbert Bécaud, Edith Piaf, Sheila ou France Gall.

Mais do que um retorno ao clássico género musical, Resnais propõe, assim, um jogo de contrastes e ironias estruturalmente semelhante ao que o escritor e dramaturgo inglês Dennis Potter aplicou nas séries televisivas Dinheiro do Céu (1978) e O Detective Cantor (1986).

Que é como quem diz: trata-se de usar as canções do património popular para criar um espectáculo que vive tanto da sugestão dramática como da sua irónica desmontagem por processos... musicais!

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