A candidata que quase dobrou resultado de Francisco Louçã

Candidata sublinha melhor resultado de sempre numas presidenciais. Líder bloquista lamenta "ambiguidade" que deu vitória a Marcelo, mas reitera que país quer a mudança
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Em duas palavras podia ser resumida a noite que se viveu ontem no Coliseu do Porto, quartel-general da candidatura de Marisa Matias: dois dígitos. A candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda (BE) obteve o melhor resultado de sempre que qualquer personalidade daquela área política alguma vez conseguiu, quase dobrando os números registados por Francisco Louçã em 2006.

Marisa contabilizou 10,13% dos votos face aos 5,32% que o fundador do BE somou há dez anos. Num ambiente de euforia, que começou logo com as primeiras projeções às 20.00, a família bloquista uniu-se, festejou e só não teve uma noite mais memorável porque a esquerda falhou o objetivo de "forçar" a segunda volta nestas presidenciais. A eurodeputada conseguiu mais votos do que os totalizados por Maria de Belém e Edgar Silva e deu um contributo para a consolidação do BE no espectro político nacional. Isto pouco mais de três meses depois do melhor resultado de sempre do partido em eleições para a Assembleia da República.

Isso mesmo disse Catarina Martins, por volta das 21.45. "Depois das legislativas de outubro, estas eleições confirmam o que muitos não queriam perceber: que a determinação do Bloco mudou o mapa político em Portugal, que um povo quis começar a desmantelar a austeridade e que escolhe este espaço político para a luta e para a garantia da defesa dos trabalhadores e reformados. O BE é a força fundamental para essa política de confiança", afirmou a porta-voz nacional do BE, muito aplaudida por uma plateia onde estavam, entre outros, o ex-coordenador do partido João Semedo, o líder parlamentar Pedro Filipe Soares e o mandatário nacional de Marisa Matias, António Capelo.

Diferente foi o registo da candidata. Para Marisa, os resultados "também demonstram que há uma enorme onda de esperança que está a crescer no nosso país e que está a fazer o seu caminho". Onda essa, prosseguiu, que está "a crescer" e que teve tradução "muito clara" no resultado que ela própria acabara de alcançar. Mesmo perante a derrota da esquerda às mãos de Marcelo Rebelo de Sousa.

Questionada pelos jornalistas sobre o que teria falhado para que essa meta não tenha sido alcançada, Marisa foi taxativa. E não conteve o remoque: "Não foi nesta candidatura que algo correu mal. Ficou claro que esta candidatura foi buscar votos a muitos setores da sociedade, da direita à esquerda, à abstenção e à desistência. Não foi nesta candidatura que houve um problema."

Minutos mais tarde, Catarina assinaria por baixo, "com a tranquilidade" de quem sabia que o objetivo não tinha sido atingido mas que "tudo fez" para que assim não fosse, mas subiria o tom. E deixava a direção do PS, sem se referir especificamente aos socialistas, com as orelhas a arder.

"A vitória da direita nestas eleições é uma derrota para a esquerda, da qual devemos retirar lições. A ambiguidade não mobiliza ninguém e a desistência é sempre o pior dos caminhos. Nunca é o caminho do BE", afirmou a líder bloquista, recusando adiantar se o recado era dirigido a António Costa e ao universo rosa - não se demitiu, porém, de ser parte ativa nessa reflexão conjunta.

Ainda assim, e enfatizando que a sua candidata fez "uma grande campanha", retomou os alertas: "A direita mas também o governo devem perceber que a razão por que o BE cresce é porque são cada vez mais os homens e as mulheres que não se resignam com a emigração e a pobreza."

Já Marisa, quando interrogada sobre a que lhe sabia o resultado alcançado, foi categórica. "Esta noite sabe-me a democracia. Em democracia não há nada mais precioso do que a vontade do povo", disse, deixando uma crítica implícita à comunicação social. "Os objetivos estavam bem definidos. Penso que também fica claro que temos de ter condições iguais quando apresentamos candidaturas, que não há candidatos nem de primeira nem de segunda", prosseguiu a eurodeputada.

De caminho, a dirigente do BE dirigiu-se aos portugueses, e em particular àqueles que com ela se cruzaram na estrada, para renovar os votos de que não se esquecerá das suas queixas. "Podem contar sempre comigo." E abandonou o púlpito sob uma enorme ovação.

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