Já lá vai o tempo em que a máxima proferida pelo antigo avançado inglês Gary Lineker - "O futebol é um jogo simples: vinte e dois homens correm atrás de uma bola e no fim ganha a Alemanha - se concretizava com assinalável assiduidade. O próximo adversário de Portugal no Euro 2020 tem oscilado de forma improvável e desde o desastre que foi a sua participação no último Mundial, onde nem sequer superou a fase de grupos (apesar de ter chegado ao certame como o campeão em título), tem somado resultados impensáveis, isto apesar da indiscutível qualidade dos seus jogadores, do poderio dos seus clubes e de ter mostrado que não há razões para temer o futuro - como prova a recente vitória na prova destinada aos sub-21, exatamente frente a Portugal..Desde a prova russa de 2018, a Nationalmannschaft tem tantas vitórias como empates e derrotas (15), um número pouco habitual numa equipa habituada a larga percentagem de vitórias. Chegou a descer de patamar na Liga das Nações (apesar de, graças uma reformulação da prova, se ter mantido no principal escalão) e sofreu uma goleada impensável frente a Espanha (0-6) e um desaire caseiro frente à Macedónia do Norte, já este ano. Joachim Löw, no cargo de selecionador há 15 anos, não vai continuar aconteça o que acontecer e já se sabe que Hansi Flick, campeão europeu pelo Bayern, lhe vai suceder..A entrada no Europeu também não correu da melhor forma: derrota com a França e apenas um remate enquadrado na baliza de Lloris, algo que já não se via na competição desde a derrota com a Espanha na final de 2008. Ainda assim, o técnico germânico não se mostrou muito preocupado no final da partida frente aos gauleses. E com alguma razão: apesar do desaire, a Alemanha fez uma exibição globalmente sólida perante um adversário que está num grande momento, falhando somente no último terço. Apenas a Holanda conseguiu uma melhor percentagem de passes certos na primeira jornada (90% contra 89 dos alemães) e o golo consentido cedo na partida resultou de um corte infeliz de Hummels que enganou o seu próprio guarda-redes. "A ambição e a atitude da equipa foram exemplares e é por isso que sabemos que somos capazes de dar a volta à situação", assinalou Joachim Löw no final do encontro..Durante quatro épocas e meia, o dianteiro português Hugo Almeida conviveu diariamente com a realidade e exigência do futebol alemão, vestindo a camisola do Werder Bremen. Por lá só não foi campeão, mas conquistou uma Taça da Alemanha, uma Taça da Liga e uma Supertaça, assinando um total de 68 golos, sempre nos dois dígitos por temporada. Natural da Figueira da Foz e atual técnico-adjunto da formação de sub-23 da Académica, enquanto vai tirando os níveis necessários para tentar a sorte como treinador, o antigo internacional sabe bem que Portugal não vai ter facilidades na partida deste sábado em Munique (17.00, em direto na TVI e Sport TV).."A Alemanha é sempre uma grande equipa, isso não está em causa. Agora é normal, quando há uma renovação de jogadores, que estes demorem sempre mais tempo a conhecerem as ideias do treinador, isso é óbvio. Mas é sempre um conjunto muito compacto e muito perigoso. Lá está, numa renovação de jogadores nem sempre as coisas correm da melhor forma, apesar de haver muitos futebolistas com grande qualidade. Temos o exemplo da França, que andou desaparecida durante alguns anos e é campeã do mundo, tal como Itália, que agora vai em 29 jogos sem perder [a última derrota foi frente a Portugal em Outubro de 2018, com golo de André Silva] e está a jogar muito bem...", começa por dizer ao DN o antigo ponta de lança, acrescentando: "Se já é complicado uma seleção que trabalha pouco tempo meter em prática o que o treinador quer, assim ainda é mais dífícil porque há menos dias para trabalhar.".Para o antigo jogador, com os resultados da primeira jornada "não há dúvida que a Alemanha vai entrar mais pressionada para este jogo, numa altura em que sabemos que não está a todo o gás". "Portugal está em primeiro no grupo, fez três golos - o que pode ser importantíssimo - à equipa teoricamente mais fraca, entrou bem e a equipa está moralizada. É sempre melhor entrar em campo com três pontos do que com nenhum", reforça Hugo Almeida..Sobre o facto de Joachim Löw ser um treinador a prazo, o ex-internacional não vê que isso possa influenciar o rendimento dos seus jogadores "que querem o melhor para si e para o seu país, ainda para mais uma competição como esta": "A Alemanha é uma seleção que está habituada a ganhar e a estar sempre nos grandes palcos, por isso não faz o mínimo sentido pensar nisso"..Na primeira ronda, o técnico germânico começou o jogo com uma linha de três jogadores atrás (Ginter, Hummels e Rüdiger), tática que começou a utilizar, curiosamente, na derrota perante os macedónios. Para enfrentar Cristiano Ronaldo e companhia, Hugo Almeida não sabe se Löw vai apostar nessa formação (que testou nos dois jogos de preparação) mas acredita que o responsável alemão vai aproveitar os dias até ao jogo para "rever as suas ideias e perceber onde é que a sua equipa não esteve tão bem e de que forma pode atacar e ferir Portugal."."Sabemos que a Alemanha não está confiante e que Joachim Löw teve de chamar alguns jogadores mais experientes para esta competição porque reconheceu algumas lacunas na sua equipa e por vezes isso gera alguma instabilidade em termos anímicos. Coletivamente ainda não é uma equipa muito consolidada devido a estes pequenos percalços, empates e derrotas que têm sofrido, que geram sempre alguma instabilidade dentro de um grupo", asssinala..Uma coisa é certa, a Alemanha sempre foi um osso duro de roer para a equipa das quinas, algo que Hugo Almeida não consegue explicar. Dos 18 encontros já efetuados, Portugal apenas venceu três (um num particular em 1983, no Restelo, graças a um golo do recentemente falecido Dito; outro no apuramento para o Mundial 86 com o famoso pontapé de Carlos Manuel; e por fim no Euro 2000, com um hat-trick de Sérgio Conceição que provocou um terramoto na organização do futebol germânico)..Desde aí, quatro jogos, quatro triunfos da Mannschaft. E sábado não se antevê tarefa fácil, até porque o jogo é em Munique: "Portugal já jogou em Budapeste contra a equipa da casa e venceu, com o estádio completamente cheio, o que o não vai acontecer em Munique. A Alemanha jogou com a França em casa e perdeu... Mas é lógico que o fator casa tem sempre os seus prós no desempenho".