Na sua primeira conferência em Portugal,o arquiteto Jean Nouvel foi esta segunda-feira apresentado por Eduardo Souto Moura, que contou ter conhecido o francês em 95, quando este o convidou para a Bienal de Paris. . Perante uma plateia repleta no teatro do Rivoli, que recebia o segundo dia do Fórum do Futuro, ciclo de conferências que decorre no Porto até dia 30, assim apresentava o vencedor do prémio Pritzker de 2011 o galardoado francês com o mesmo prémio em 2008: "Trabalha com a realidade, mas muda a realidade." . O autor do Instituto do Mundo Árabe em Paris, que lhe valeu um prémio Aga Khan para a Arquitetura, começou por elogiar os edifícios da cidade do Porto, que já conhecia de fotografias, mas afirmou que "é apenas quando estamos dentro da arquitetura que podemos saber o que ela é". . Logo no início da conferência intitulada O Futuro das cidades, o arquiteto francês, que em tom de brincadeira disse não ser vidente - "Não sou a Madame Soleil" -, prometeu "tentar falar do futuro não como uma crença, mas como a expressão de um desejo". . Numa crítica feroz à arquitetura "globalizante" e homogeneizada, Jean Nouvel, que atualmente tem em mãos o novo museu do Louvre em Abu Dhabi em construção, defendeu a matriz da arquitetura como "a poética da situação" e do contexto. . "Sou um arquiteto contextual, [que é] uma palavra mal interpretada, as pessoas pensam em pastiche. É ter em conta todos os parâmetros, trabalhar na perspetiva do futuro próximo, na interferência, na mutação" . "É preciso interferir, libertar a regulamentação no sentido da mutação", afirmava esta segunda-feira o arquiteto de 69 anos, insistindo na necessidade de o futuro passar pela "mutação" da paisagem atual de forma particular em cada lugar, em detrimento da reprodução de uma paisagem homogénea a partir de regras "globalizantes". "Essa noção de mutação, o trabalho a partir dos edifícios existentes é a única forma existente de passar através das leis." . Citando o seu próprio Manifesto de Louisiana, escrito aquando de uma exposição sua em 2005 no Museu de Arte Moderna de Louisiana, em Humlebæk, cidade dinamarquesa a cerca de 40 km a norte de Copenhaga, Nouvel lançava: "Essas regras territoriais genéricas e arquiteturais, (sim, arquiteturais! Pois a arquitetura existe em todas as escalas e o urbanismo não existe, é o travesti mal maquilhado de uma arquitetura servil a grande escala (...) têm de ser substituídas por outras, baseadas na análise estrutural de uma paisagem vivida". . Do seu oficio disse ainda que cada projeto seu "é uma aventura" que "nunca se sabe como irá acabar". Definindo a arquitetura como uma disciplina de síntese, Nouvel confessou que é na cama, "às oito ou nove horas" num "silêncio quase total", que deixa "vaguear todas as ideias" até que "as coisas se fabricam e é preciso apanhá-las".