A antipatia por Israel da esquerda espanhola
Nestes dias de crise, de ameaça de um conflito global no Médio Oriente, vê-se a ambiguidade e a retórica de circunstância do governo espanhol, leem-se as declarações hostis para Israel da ministra, que ironicamente é da "Igualdade". Em geral, há uma falta total de empatia com Israel na esquerda. Critica só as atrocidades do Hamas à boca pequena, quando muito, um "sim, mas". Alguns, como o secretário do Partido Comunista, que faz parte do Sumar, partido no governo, tem mesmo recusado chamar terrorista ao Hamas.
Mas sempre foi assim, desde 1492: é ancestral. Lembremos que Espanha só reconheceu o Estado de Israel em 1986, porque nessa altura Shimon Peres fazia parte da Internacional Socialista e a Espanha já era membro do Mercado Comum. Mas a ideologia falsa do anti-sionismo tem prevalecido sempre na esquerda espanhola. Em geral, Israel nunca têm tido a sua simpatia, mesmo da ala moderada socialista. Um exemplo, Amparo Rubiales, presidente do PSOE da Andaluzia, chamou este verão "judeu nazi" ao dirigente de PP, Elias Bendodo. Anti-semitismo no ADN.
A esquerda espanhola é muito perita na dupla moral. Durante a guerra na Síria não houve nenhuma manifestação frente à embaixada síria. Eu moro ao pé da embaixada do Irão em Madrid e nunca houve uma manifestação nem feminista nem de nenhum grupo espanhol contra a repressão sanguinária do regime. Também não houve nunca manifestações contra a China pela repressão dos uigures muçulmanos (nem pela ocupação do Tibete), nem contra Myanmar pela massacre e deportação maciça dos muçulmanos rohingyas.
No entanto, já tivemos - e vamos ter muitas mais - várias manifestações que mais do que de apoio aos palestinianos, são sobretudo contra Israel. Nenhuma empatia nem compaixão pelas vítimas israelitas dos kibbutzs (onde os terroristas também assassinaram alguns árabes, e dois mortos espanhóis que ninguém lembra). Netanyahu, que agora pretende limpar a sua imagem com uma reação violenta, vingativa, é o grande apoio da esquerda anti-israelita, porque dá a eterna canção anti-imperialista, anti-sionista e, em definitiva, anti-semita.
A televisão oficial e a imprensa mais de esquerda têm posto muito mais o acento em Gaza, esquecendo o que aconteceu no 7 de outubro. A preocupação com a população de Gaza, absolutamente necessária, urgente, com o necessário respeito aos princípios humanitários, não pode apagar as causas da reação israelita. Quando a embaixadora de Israel se queixou publicamente da atitude da ministra, choveram críticas de todos os lados. Quando David Grossman falou com tristeza do antiisraelismo da esquerda espanhola e europeia, Sergio del Molino, no El Pais, diz que Grossman "brama", o que é praticamente insultar-lhe, desqualificar-lhe.
Haverá um antes e um depois do massacre do Hamas, como Shlomo Ben Ami tem escrito. Com amargura, os liberais israelitas têm comprovado mais uma vez a falta de solidariedade das esquerdas europeias, e particularmente, da espanhola. Temos mesmo abandonado os pacifistas israelitas para nos focar só nos palestinianos, com uma indissimulada antipatia ancestral por Israel.
Escritor espanhol