A antiga promessa que quer voltar a dirigir uma equipa
Jorge Amaral tem um currículo invejável. Formado no Sporting, foi campeão do mundo de sub-20 em 1989 ao lado de João Pinto, Fernando Couto e Paulo Sousa, jogou na equipa principal dos leões, representou o Benfica e continuou na I Liga ao serviço de Felgueiras, Belenenses, Vitória de Setúbal e Santa Clara. Terminou a carreira nas divisões inferiores, antes de virar treinador, tendo passado já por Seixal, Peniche, Estoril (adjunto), Fabril, Real e Pescadores.
Há um ano que não dirige uma equipa, depois de ter saído "a bem" da formação da Costa de Caparica, que se encontrava em "decadência". Está na hora de voltar a treinar. "A ver se aparece alguma coisa. Não estou a fazer nada. Era para ter treinado os juvenis do Atlético na época passada, mas acabou por não acontecer", afirmou o antigo extremo, 47 anos, sem preferências pelo tipo de projeto a integrar: "Acaba por ser aleatório. Não estou aflito." Residente em Almada, também já esteve ligado ao ramo da restauração e fez trabalhos como taxista.
Apesar do desejo de voltar ao ativo, reconhece que treinar amadores não é fácil. "Alguns jogadores pensam que os clubes dos campeonatos distritais servem para arranjar mais dinheiro para as suas vidas. Já apanhei de tudo um pouco e tem de se olhar para a profissão de cada um para se poder planear um treino. Uns trabalham na construção civil, outros são carteiros e não se pode dar tanta carga a esses, que têm profissões desgastantes", contou ao DN.
Sete operações aos joelhos
"Sinceramente, penso que podia ter feito mais, melhor e ter ido mais longe." É assim que Jorge Amaral analisa o percurso que teve enquanto futebolista. "Houve objetivos que não atingi, como ser campeão e chegar à seleção A, mas orgulho-me da carreira que tive. Estive 11 anos na I Liga, fui campeão mundial e joguei em dois dos melhores clubes portugueses. Fiz uma carreira dentro do que foi possível", afirmou o antigo futebolista, bastante fustigado por lesões.
"Fui muito infeliz com as lesões, algo que limita a carreira. Fui sete vezes operado aos joelhos - quatro ao esquerdo e três ao direito -, entre meniscos e fraturas de rótula. Tive um ano completo de paragem, em 1993, após uma época em que o Bobby Robson treinou o Sporting", lamentou. Por situação idêntica passou anos antes, em 1989-90, na sequência de um acidente de viação. "Vinha de uma festa de aniversário, na Avenida Marginal (N6), e tive um acidente grave. Podia ter ficado paraplégico, isto poucos meses depois de me ter sagrado campeão do mundo. Essa lesão limitou-me o início da carreira", recordou, acerca de um incidente que ocorreu durante a época de regresso ao Sporting, após ter estado emprestado ao Académico de Viseu, então na I Divisão.
O histórico de problemas físicos, que apenas o deixou jogar por 37 vezes em cinco temporadas de verde e branco, acabou por ajudar a ditar a saída de Alvalade, para mágoa de Amaral. "Havia uma grande incompatibilidade com o presidente do clube [Sousa Cintra]. Houve uma situação após a lesão, em que estava sem contrato e recebia dinheiro do seguro. Quando foi para renovar, ele aproveitou-se e fez uma proposta de renovação muito baixa. Havia outros da minha idade, e que não tinham sido campeões do mundo, com contratos melhores", lembrou.
Nesse defeso de 1994, acabou por rumar ao Benfica, numa mudança que para muitos serviu de resposta ao verão quente do ano anterior, quando Pacheco e Paulo Sousa fizeram o caminho inverso. "Se calhar servia, não faço ideia. Eu era um jovem, sentia que podia fazer mais e queria mudar, em vez de estar num sítio onde não estava a ser bem tratado na altura", recorda.
Viria a passar apenas um ano de águia ao peito, tendo efetuado 14 jogos e apontado um golo. Na verdade, chegou a marcar outro, nas Antas, frente ao FC Porto, para a Supertaça, mas foi polemicamente anulado pela equipa de arbitragem liderada por Donato Ramos. "O golo foi completamente limpo. Foi ridículo. Rematei de longe e a bola só foi desviada por um jogador portista. Havia muito falatório e guerra entre Benfica e FC Porto, e eu fui vítima dessa guerra", contou o ex-jogador, que também não foi muito feliz na Luz.
Incompatível com Jorge Jesus
Depois veio o Felgueiras de Jorge Jesus, na altura em estreia na elite do futebol português. "O treinador estava a começar a ter sucesso e a treinar na I Liga. Tinha os seus defeitos e as suas virtudes. Tive um outro problema com ele, mas são coisas do futebol. Não quis voltar a ser treinado por ele. Ainda me convidou para o Estrela da Amadora, mas não aceitei. Preferi ficar onde estava em vez de trabalhar com ele", disparou Amaral, que ainda jogou na I Liga por Belenenses, V. Setúbal e Santa Clara, antes de acabar nas divisões inferiores.
Curiosamente, recorda a última das duas temporadas que passou no Olhanense, em 2003-04 - já depois de ter alinhado pelo Atlético, na antiga II Divisão B -, como uma das melhores da carreira. "Subimos à II Liga, no final da minha carreira, numa das minhas melhores épocas. Foi um ano muito especial, porque eu era dos mais velhos, dos capitães de equipa, e ajudei os colegas e a equipa a atingir o objetivo", confessou o antigo extremo, que pendurou as botas depois de dois anos nos também algarvios do Beira-Mar de Monte Gordo.