A alternativa necessária

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O que levou o País até aqui não está dissociado das opções de há dois anos. O PS conseguiu a tão almejada maioria absoluta, que tem servido sobretudo para favorecer os interesses dos grupos económicos e das multinacionais, dos fundos, da especulação. Mas a situação em que o País se encontra também não está dissociada de uma opção política que agrava as desigualdades e injustiças que atingem os trabalhadores e o povo.

Na sequência dos acontecimentos da passada semana, o Presidente da República decidiu aceitar a demissão do primeiro-ministro, dissolver a Assembleia da República e marcar eleições legislativas antecipadas. A marcação de eleições legislativas, para além de permitir uma clarificação, constitui uma oportunidade para abrir caminho para mudar de política, para uma política alternativa em defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo e do País.

A maioria absoluta do PS dispunha de condições para dar resposta aos problemas, o que faltou foi vontade política para o fazer. Em vez de valorizar os salários e as pensões, optou por atribuir mais isenções e benefícios fiscais aos grupos económicos. Em vez de reforçar o Serviço Nacional de Saúde, valorizar as carreiras e garantir condições de trabalho aos profissionais de saúde, optou pela transferência de prestação de cuidados e de recursos públicos para os grupos privados da doença. Ou em vez de travar os aumentos de rendas e das prestações à banca, optou por medidas de promoção da especulação imobiliária, beneficiando a banca, os fundos e os grandes proprietários, isto é, beneficiando aqueles que ganham com a especulação.

Fica evidente que não é no PS que os portugueses encontram resposta aos seus problemas. Também não a encontram no PSD, no CDS, na IL e no CH. Todos ainda nos recordamos dos cortes nos salários e das pensões, das privatizações, do ataque aos serviços públicos pelas mãos do PSD e do CDS, onde na altura estavam muitos dirigentes da IL e do CH. Não deixa de ser significativo que, para além do PS, haja forças de direita que consideram que o orçamento deve ser aprovado.

A alternância, ora Governos PS, ora Governos PSD sozinho ou não, também já comprovou que não responde aos problemas. Não faltam exemplos, em que apesar de dissimularem divergências no debate político, sobretudo sobre aspetos laterais, no que toca aos interesses dos grupos económicos, lá está o PS, mas também o PSD, CDS, IL e CH para os salvaguardar. Foi assim quando propusemos a redução do preço dos alimentos a partir da redução das margens de lucro da grande distribuição. Entre defender os interesses do povo e reduzir os preços, PS, PSD, IL e CH optaram por proteger os lucros da grande distribuição, lucros que têm vindo a aumentar, assim como na banca, nas telecomunicações, nas energéticas, à custa do empobrecimento dos trabalhadores e do povo.

O povo e o País não estão condenados a uma política que é responsável pelas crescentes dificuldades da vida dos trabalhadores e dos reformados e pela progressiva degradação dos serviços públicos. Não estamos condenados, nem é uma inevitabilidade, é antes uma opção política.

A resposta aos problemas passa por uma política alternativa, patriótica e de esquerda, uma política que combata as desigualdades e as injustiças e assegure uma justa redistribuição da riqueza criada, pela valorização dos salários e das pensões, que garantam uma vida digna. Uma política que reforce os serviços públicos e os direitos consagrados na Constituição, em especial a Saúde, a Educação, a habitação, a cultura e a Justiça; que garanta os direitos das crianças; que combata a corrupção, que ponha fim ao favorecimento do capital e à promiscuidade entre poder político e poder económico; que assegure o controlo público de setores estratégicos; de justiça fiscal; que aposte na produção nacional, defenda a soberania e a independência nacionais, de amizade e cooperação entre os povos, que promova a paz.

Será tanto mais possível avançar na concretização desta política alternativa, quanto mais força tiver o PCP e CDU.

Presidente da bancada parlamentar do PCP

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