A figura do forcado está intimamente ligada à vida e história de Alcochete. Por isso nada mais natural do que a viagem pela vila, guiada pelo cavaleiro Gilberto Filipe, começar pela Praça de Touros. Um espaço relativamente pequeno, mas com um impacto grande na vivência da vila. E que é decorado, no exterior, com a estátua de Hélder Antôno. Da autoria de Soares Branco pretende homenagear o forcado que, com apenas 21 anos, faleceu na arena.."Alcochete tem dois grupos de forcados: o Grupo de Forcados Amadores de Alcochete e o Aposento do Barrete Verde" constituídos quase exclusivamente "com membros da terra", refere o cavaleiro, que acrescenta que, para ele (e para as pessoas de Alcochete), a estátua representa a figura do forcado. "O povo de Acolchete tem uma identidade bairrista e, acima de tudo, tem orgulho na sua praça de toiros, nos seus grupos, nas suas famílias e tradições", afirma, convicto, Gilberto Filipe..A carreira do cavaleiro está, naturalmente, ligada aos cavalos. Mas a sua introdução a estes animais não foi pacífica. Quando era pequeno, o tio comprou uma égua "por graça". E a primeira experiência não correu bem. "Caí e ganhei um medo terrível", lembra. Mas, "passados dois ou três anos", abriu um picadeiro - Picadeiro Quinta da Horta - e decidiu experimentar novamente: "O vício foi crescendo". Na altura tinha uns nove anos e quatro anos depois tentou "tourear a primeira vaca", lembra, acrescentando que manteve sempre a ligação à equitação. Mesmo quando se tornou profissional tauromáquico. Toureou pela primeira vez com 16 anos e tornou-se profissional aos 20. Hoje dedica-se à equitação de trabalho.."Alcochete é um local muito bairrista, com uma população extraordinária, muito alegre e com orgulho nos seus". É desta forma que Gilberto Filipe descreve a "sua" vila. "Encostada ao rio Tejo, com uma beleza incansável, é um sítio para viver extraordinário, porque, para além de as pessoas serem acolhedoras e o local ser lindo, tem todas as comodidades necessárias", afirma, salientando o facto de "estar a 10 minutos de Lisboa, ter restaurantes de qualidade, locais para assistir ao pôr-do-sol encostado ao rio...".Ao falar com Gilberto sobre Alcochete nota-se, claramente, a emoção e o orgulho na sua terra. Algo ainda mais visível ao passear pela frente ribeirinha e pelo centro da vila. Um centro (histórico) que permanece inalterado. Porque tem havido o cuidado de preservar as características e as casas têm sido restauradas mantendo a traça original..Há ainda um outro ponto interessante. É certo que Alcochete tem um histórico piscatório, dada a sua ligação ao rio. No entanto, há também uma ligação muito forte à agricultura. Como refere Gilberto Filipe, "Alcochete é como que uma cidade de transição". Entre o mundo "moderno" - Lisboa - e o mundo rural - Ribatejo. "Estamos a dois passos de Lisboa e a dois passos do verdadeiro campo, o Ribatejo", afirma, relembrando a existência do Parque Natural do Estuário do Tejo e das salinas, que tiveram o seu peso na história da localidade. Aliás, se é certo que o forcado é um dos símbolos de Alcochete, outro é inevitavelmente o salineiro.."Em todos os ranchos folclóricos aqui à volta é normal ver o campino, o forcado e o salineiro", refere, acrescentando a ceifeira e os tiradores de cortiça, cujos trajes "ainda são muito usados durante as festas"..Para conhecer verdadeiramente Alcochete, lembra-nos o nosso cicerone, há que passear pelas ruas do centro, onde temos a sensação que recuámos no tempo e que estamos como que numa aldeia, com as ruas estreitas, as casas baixas e pintadas com o tradicional branco e o reboco a cor, o tanque à porta e as janelas viradas para a rua. Mas, também, visitar espaços emblemáticos como a sede do "Barrete Verde", grupo que não só organiza as festas da terra, em agosto, como tem no seu interior todo um espólio que conta a história da vila. Alberga igualmente um dos restaurantes típicos de Alcochete, com as sobremesas típicas - arroz-doce e fogaça - e, claro, a caldeirada..Também a praia é claramente um dos pontos de encontro obrigatórios em Alcochete. Não só para apreciar o espaço de veraneio, mas também para praticar desportos como kitesurf. Com uma vantagem: a calmaria das águas torna a praia especialmente vocacionada para as famílias com crianças (pequenas).