A agenda Moleskine que revela os bastidores do processo independentista

Juiz do Supremo Tribunal pede à Guardia Civil informações sobre papel dos líderes da ERC e PDeCAT no processo
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A "prova número oito" apreendida pela Guardia Civil na casa do ex-secretário-geral da vice-presidência da Generalitat, Josep Maria Jové, revela os bastidores do processo independentista catalão desde fevereiro de 2015, assim como todos os responsáveis envolvidos. Trata-se de uma "agenda grande de cor preta de tamanho médio com a inscrição Moleskine" e o relatório policial sobre o seu conteúdo já está na posse do juiz de Barcelona que investiga a realização do referendo de 1 de outubro.

A agenda do número dois de Oriol Junqueras, ex-vice-presidente da Generalitat, foi apreendida a 20 de setembro (quando Jové foi detido, por estar a preparar o referendo). A polícia concluiu o relatório a 28 de novembro, entregando-o então ao juiz de Barcelona. Segundo os media espanhóis, que tiveram acesso a esse relatório, a agenda inclui anotações de 12 de fevereiro de 2015 até 11 de novembro de 2016 sobre o "o processo para a independência e para alcançar a República catalã" , "o referendo de independência", "as estruturas do Estado", as "leis de desconexão" e a "estratégia de desobediência".

A agenda coloca Marta Rovira, número dois da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e provável candidata do partido à presidência da Generalitat (uma vez que Junqueras está preso), no centro da estratégia independentista. Participa em todas as reuniões relatadas por Jové. Numa delas, em agosto de 2016, escreve : "Introduzimos referendo? Instrumento válido, mas se o anunciamos tem que se fazer ou sim ou sim."

Quem também esteve nalguns encontros foi o ex-presidente da Generalitat, Artur Mas, ou a porta-voz da Candidatura de Unidade Popular (CUP, radicais), Anna Gabriel. Ambos estão também na mira de outro juiz, o do Supremo Tribunal, que investiga o ex-governo catalão por rebelião e ontem pediu para que se alargue a investigação ao chamado Comité Estratégico para a independência - que incluía ambos. Pablo Llarena pediu à Guardia Civil que efetue as diligências necessárias para saber se houve um conluio inicial entre os partidos independentistas e as associações Assembleia Nacional Catalã (ANC) e Òmnium Cultural, assim como a Associação de Municípios para a Independência , para realizar o referendo.

Obras religiosas

Um grupo de manifestantes envolveu-se ontem de madrugada em confrontos com os Mossos d"Esquadra (polícia catalã) à porta do Museu de Lleida, para tentar travar a devolução de 44 obras religiosas ao Mosteiro de Villanueva de Sijena, em Aragão. O tema tornou-se mais um símbolo do desacordo entre a Catalunha e o governo central, depois de o ministro da Cultura espanhol, Iñigo Méndez de Vigo, ter aceite o pedido do juiz de devolver as obras à sua proveniência - Aragão alegava que tinham sido ilegalmente vendidas nos anos 1980 e em 2015 um tribunal tinha considerado a venda ilegal. A decisão do ministro foi possível por ter sido acionado o 155.º da Constituição, que suspendeu a autonomia.

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