"A abertura do dating pode afastar pessoas do Facebook"

Luís Santos, professor de jornalismo e membro do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho, explica as fragilidades do Facebook Dating
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O que acha do timing deste lançamento?

O Facebook está a ter uma crise de identidade muito profunda, porque o modelo de negócio está assente na rentabilização da nossa presença na plataforma e portanto quanto mais lá estamos mais negócio há. Isso traz implicações legais, políticas, sociais muito mais graves do que eles teriam pensado mas que estão ligadas a este modelo de negócio. Agora estão a tentar diversificar de uma forma que acho que pode ser arriscada.

Por causa dos dados sensíveis?

Sim, e porque a abertura deste novo campo pode afastar pessoas do Facebook.

Que tipo de pessoas?

Os estudos recentes dizem que os mais novos têm algumas dificuldades em ligar-se ao Facebook, ligam-se a outras plataformas. Diria que os mais novos não entrariam neste jogo de forma aberta, e eventualmente pessoas que vejam nisso um desvirtuar da plataforma podem sentir-se ainda mais tentadas a sair. De que forma a plataforma vai utilizar os meus dados passados no novo perfil?

Há estudos que apontam para os efeitos negativos das redes sociais, e outros destacam os positivos. Onde enquadraria isto?

É as duas coisas ao mesmo tempo, o que torna estes fenómenos complexos. Encaixa num comportamento compulsivo que as pessoas já têm e encontra acolhimento numa plataforma viciante. O fluxo constante, o pulsar, likes a aparecerem em tempo real. Aumenta de forma estrondosa a confusão que já existia entre a nossa vida pessoal e a vida profissional, e isso tem impactos positivos e negativos. Há um nível de intervenção no nosso comportamento social que padroniza alguns tipos de comportamentos, como as reações por multidão e as efervescências. Nalgumas pessoas, isto reduz o seu comportamento ao mínimo. Estamos todos a vigiar-nos ao mesmo tempo. Temos uma predisposição para ditar sentenças sobre a vida dos outros.

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