90 jornalistas de Hollywood escolhem vencedores dos Globos de Ouro

Os galardões são atribuídos esta madrugada.
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A temporada dos prémios de cinema tem, esta madrugada, um dos seus momentos emblemáticos: no Hotel Beverly Hilton, em Los Angeles, decorre a 73.ª cerimónia dos Globos de Ouro de Hollywood (com transmissão na SIC Caras a partir da meia-noite).

Entre os faustos da passadeira vermelha e a expectativa em relação aos Óscares (que encerram a temporada a 28 de fevereiro), os Globos irão consagrar filmes e personalidades que, por certo, ao longo de 2016, terão especial protagonismo na vida artística e comercial do cinema. E não tenhamos dúvidas: os resultados poderão ter uma influência significativa na perceção pública de títulos tão especiais como Carol (crónica íntima de um amor entre duas mulheres na década de 1950), O Caso Spotlight (evocando uma investigação jornalística sobre abuso sexual de crianças por elementos da Igreja Católica de EUA e Irlanda) ou ainda Anomalisa (filme de animação para adultos que tem sido celebrado pela grande maioria dos críticos norte-americanos).

Veja a lista de nomeados:

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"Antecipando" os Óscares?

Como sempre, os Globos surgem enquadrados por um lugar-comum (favorecido por alguns modelos de informação) que importa desmontar. Ou seja: estaríamos perante uma "antecipação" dos vencedores dos Óscares. A primeira objeção é de natureza estatística. Há muitas coincidências, claro - e tanto mais quanto, nas categorias principais, os Globos duplicam os candidatos através da sua distribuição pelas áreas de "drama" e "musical ou comédia". Mas não se pode dizer que as repetições de premiados seja uma regra absoluta. Em 2015, por exemplo, Boyhood e Grand Budapest Hotel foram eleitos os melhores do ano anterior (drama e musical ou comédia, respetivamente), acabando o Óscar de melhor filme por ser entregue a Birdman.

Há distinções atribuídas por outras entidades que possuem um valor sintomático, eventualmente de "antecipação", muito mais pertinente. Observe-se a importância dos prémios da Producers Guild of America, isto é, a associação de produtores. Desde logo, em termos estatísticos: se considerarmos os vencedores de Globos de Ouro de melhor filme (nas duas áreas temáticas) desde o ano de produção de 2000, houve oito coincidências com os Óscares e sete vezes em que tal não aconteceu. Considerando as escolhas da Producers Guild no mesmo período, a proporção é bem diferente: por onze vezes os produtores elegeram como melhor filme do ano um título que viria a arrebatar o Óscar da mesma categoria (portanto, só por quatro vezes tal coincidência não se verificou).

Escusado será dizer que entidades como a associação de produtores (e as outras "guilds" de realizadores, atores ou argumentistas) exprimem pontos de vista interiores à própria indústria cinematográfica. Por exemplo, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que atribui os Óscares, congrega atualmente 6.691 membros de todas as áreas dessa indústria; por sua vez, os Globos de Ouro são atribuídos pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood que, neste momento, de acordo com informação disponível no seu site oficial, tem "cerca de 90 membros".

O impacto histórico dos Globos de Ouro tem resultado, em grande parte, da conciliação de dois fatores: por um lado, a Associação de Imprensa Estrangeira desenvolve uma atividade filantrópica de grande significado para a comunidade de Hollywood (de acordo com dados oficiais, em 2015 distribuiu 2,1 milhões de dólares para entidades não lucrativas da indústria e criação de bolsas de estudo em várias áreas dos estudos cinematográficos); por outro lado, o seu espetáculo anual, em tom mais informal do que os Óscares (numa sala de refeições do Beverly Hilton), consegue atrair uma galeria imensa de nomes muito populares do entertainment.

Ricky Gervais vai portar-se bem?

Este ano parece voltar a desenhar-se uma fronteira mais nítida entre as grandes produções, alicerçadas em sofisticados recursos técnicos, e os títulos de produção (ou sensibilidade) mais ou menos independente. Observe-se, em particular, o quinteto de candidatos ao prémio mais cobiçado, isto é, o Globo de Ouro de melhor filme/drama - são eles Mad Max: Estrada da Fúria (aventura futurista encenada como uma ópera delirante), The Revenant: O Renascido (relançando o espírito épico do "western") e Quarto (apostando nas emoções do drama intimista), além dos já citados Carol e O Caso Spotlight.

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Entre a grandeza de meios dos dois primeiros e a austeridade dos restantes, quem poderá fazer a diferença? Em qualquer caso, muitos observadores acreditam que a composição de Leonardo DiCaprio em The Revenant contém os méritos necessários e suficientes para o conduzir até ao Óscar que nunca ganhou; nos Globos, esta é a sua 11ª nomeação, tendo vencido com dois filmes de Martin Scorsese: O Aviador (2004) e O Lobo de Wall Street (2013).

Como sempre, alguns dos nomeados desempenharão também funções de apresentadores dos vários prémios. Será o caso de Matt Damon (nomeado para melhor ator/musical ou comédia por Perdido em Marte), Helen Mirren (melhor atriz secundária por Trumbo) ou Eddie Redmayne (melhor ator/drama por A Rapariga Dinamarquesa). Depois, a lista de celebridades inclui Tom Hanks, Amy Adams, Mel Gibson, Julianne Moore e Channing Tatum, a par de Tom Ford, Katy Perry e Lady Gaga. Isto sem esquecer Denzel Washington, este ano galardoado com o prémio Cecil B. DeMille, prestigiada consagração de carreira atribuída desde 1952 e que em anos recentes distinguiu, entre outros, Steven Spielberg, Martin Scorsese, Jodie Foster, Woody Allen e George Clooney.

Enfim, não nos podemos esquecer daquele que, de uma maneira ou de outra, será uma das vedetas da noite: Ricky Gervais, o comediante inglês que regressa como apresentador da cerimónia (depois de 2010, 2011 e 2012). O seu estilo sarcástico, para alguns de provocação gratuita, ficou sempre envolvido num misto de exaltação e polémica. Em boa verdade, todos esperam que a sua apresentação seja tudo menos monótona... Foi ele que, em 2012, propôs esta comparação: "Os Globos de Ouro estão para os Óscares como Kim Kardashian está para Kate Middleton. Um pouco mais agressivos, um pouco mais grosseiros, um pouco mais bêbedos... e mais fáceis de comprar. Alegadamente. Nada está provado."

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