8 curiosidades da noite eleitoral em que as mulheres fizeram história
É histórico: três mulheres negras vão sentar-se, pela primeira vez, no Parlamento. Joacine Katar Moreira (Livre), Beatriz Gomes Dias (Bloco de Esquerda) e Romualda Fernandes (PS), todas elas eleitas por Lisboa.
A mais mediática é a cabeça de lista do Livre, Joacine, nascida na Guiné-Bissau há 37 anos. Muitos conhecem-na por ser gaga, mas Joacine Katar Moreira tem uma história para contar: esteve num colégio interno, tomou conta de oito irmãos, andou a apanhar tomate e trabalhou em supermercados enquanto frequentava a universidade. E entrou na política para mostrar que há espaço para todos. É uma das fundadoras da INMUNE - Instituto da Mulher Negra em Portugal.
Romualda Fernandes, nasceu também na Guiné Bissau, é jurista, especialista em Direito Internacional aplicado às Nacionalidades, Condição de Estrangeiros e Direito Humanitário. Em Portugal foi assessora em vários departamentos governamentais. Foi, nomeadamente, consultora da Organização Internacional para as Migrações. Estava até agora na Câmara Municipal de Lisboa e ocupava 19.º lugar na lista do PS pela círculo da capital.
Beatriz Gomes Dias nasceu em Dakar, no Senegal, há 48 anos. Esta ativista antirracismo é fundadora é dirigente da Associação de Afrodescendentes e também membro do SOS Racismo. Foi professora de Biologia no ensino básico e secundário em Lisboa. É aluna do mestrado de Comunicação de Ciência na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. A bloquista era a terceira candidata pela lista de Lisboa
Foi uma noite histórica no que às mulheres diz respeito. E não foi só pela história que cada uma viveu esta noite. No conjunto, as mulheres estiveram em alta nestas legislativas com a eleição de 89 candidatas. Nunca tinham sido eleitas tantas caras femininas para a Assembleia da República, o que já resulta da nova lei da paridade
Há quatro anos foram eleitas 76 deputadas.
As sondagens não eram famosas, mas os políticos fazem sempre questão de dizer que são apenas isso... sondagens e que a última palavra é dos eleitores. Assunção Cristas assumiu com "humildade" os poucos votos que os eleitores lhe deram e anunciou a saída da liderança do CDS.
Assunção Cristas foi a vítima da noite eleitoral, ela que tinha ganhado um forte élan com os resultados eleitorais de 2017 em Lisboa, com mais de 20% dos votos, mas que a nível nacional esteve longe de, dois anos depois, os conseguir uma boa votação.
Dos 17 deputados eleitos nas legislativas de 2015, quando concorreu coligado com o PSD, os democratas-cristãos passam a ocupar apenas apenas cinco lugares em São Bento, ao alcançarem 4,25% dos votos a nível nacional.
A não eleição do líder parlamentar do CDS, Nuno Magalhães, é talvez o maior exemplo de como estas legislativas correram mal para o partido que viu a sua líder anunciar que se vai embora.
Nuno Magalhães não conseguiu ser eleito pelo círculo eleitoral de Setúbal, onde concorreu pela terceira vez. Os democratas-cristãos obtiveram nas legislativas deste domingo 2,96% dos votos - em 2015 tinham concorrido coligados com o PSD e alcançaram a fasquia de 22,59%.
Ao ser colocada como cabeça de lista em Leiria, já se sabia que seria difícil à CDU eleger uma das suas deputadas históricas. Heloísa Apolónia não conseguiu quebrar a malapata dos comunistas naquele círculo eleitoral e, ao fim de 24 anos, despede-se do Parlamento.
Desde 1985 que a CDU - coligação entre o PCP e Os Verdes, de que Heloísa Apolónia é a líder - não conseguia eleger no distrito de Leiria. Trinta e quatro anos depois, voltou não conseguir.
"Foram 24 anos no Parlamento a defender as causas ambientais e sociais. Agora, espera-me outra frente partidária para continuar essa luta. Tenho vários projetos na cabeça, mas ainda nada está definido", afirmou a jurista de formação, que começou por ser assessora do Partido Ecologista "Os Verdes" (PEV), ainda na década de 1990", disse a ainda deputada à Lusa.
Não reeleger uma deputada histórica foi só o auge de uma série de perdas que a CDU sofreu na noite eleitoral: perdeu também para os socialistas três dos seus cinco bastiões alentejanos.
A coligação, que junta os comunistas com Os Verdes, em 2015 tinha sido a mais votada em Avis, Mora, Arraiolos, Montemor-o-Novo e Serpa, mas nas eleições deste domingo só conseguiu manter dois desses concelhos - Avis (Portalegre) e Mora (Évora).
Mesmo onde venceram, os comunistas baixaram a votação. Em Avis obtiveram 39,12% dos votos contra os 40,2% de 2015. Em Mora, a descida foi mais acentuada - de 38,52% há quatro anos para 34, 66% nestas legislativas.
O Chega - o partido recente de André Ventura - ficou à frente do CDS no concelho de Mourão (distrito de Évora), com 4,17% dos votos, enquanto os democratas-cristãos não foram além dos 3,34%.
Em 2019, o CDS concorreu coligado com o PSD e a aliança obteve uma votação de 27,34%.
Ainda no distrito de Évora, o Chega ficou na quinta posição em Portel (2,21%) enquanto o CDS se ficou pela oitava (1,26%). Neste concelho, aliás, também o PAN (1,37%) e o PCTP/MRPP (1,82%) ficaram à frente dos democratas-cristãos.
Mas houve mais um concelho do distrito de Évora onde o CDS perdeu terreno para o Chega - Reguengos de Monsaraz. Aqui, o Chega teve 3,20% das preferências dos eleitores enquanto o CDS se ficou pelos 3,08%
No distrito de Beja, o cenário repetiu-se com os democratas-cristãos a ficarem atrás do Chega em Moura: o partido de André Ventura obteve 245 votos e o CDS ficou-se pelos 159 votos, o que em percentagem se traduz em 4,68% e 3,04%.
O mesmo aconteceu em Aljustrel, mas aqui o Chega só teve mais dos votos que o CDS (1,44% contra 1,39%).
Barrancos é a terra portuguesa em que a tradição ditou uma exceção para os touros de morte. Neste concelho do distrito de Beja, mesmo na raia, houve contudo quem colocasse o seu voto no Pessoas-Animais-Natureza (PAN).
Foram oito os eleitores (1,21%) que votaram no partido de André Silva, o grande defensor dos direitos dos animais.