750 mil euros para ajudar aqueles que fazem milagres
Desde 2017, o Prémio Fidelidade Comunidade entregou 1,5 milhões de euros a mais de 50 instituições que atuam nas área da inclusão social, envelhecimento e prevenção em saúde e na edição deste ano conta atribuir mais 750 mil euros. As candidaturas para esta iniciativa já estão abertas, contando a diretora de responsabilidade social da empresa seguradora, com um boom de inscrições, não tivesse este último ano sido "um ano horrível, que abalou a economia e o setor social, que depende muito de donativos e apoios". "Estes prémios pretendem tornar o setor social mais robusto, mais preparado", explica Ana Fontoura.
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Caberá a um júri composto por Jorge Magalhães Correia, presidente da Fidelidade, Madalena Santos Ferreira, jurista, Filipe Almeida, Presidente da Estrutura de Missão Portugal Inovação Social, Isabel Capeloa Gil, reitora da Universidade Católica, e Maria de Belém Roseira, ex-ministra da Saúde e da Igualdade, selecionar as instituições que irão beneficiar da ajuda. "Com estes prémios pretende-se dar apoio a instituições da área da economia social, portanto não lucrativas, que como todos sabemos, têm objetivos muito generosos mas têm também dificuldades em captar recursos, porque algumas delas, mesmo tendo acordos ou protocolos de colaboração com a segurança social ou a saúde esses protocolos ficam sempre muito aquém dos custos com a realização das ações", diz Maria de Belém.
"Se esta gente não existisse não sei como o país iria enfrentar esta fase. Há pessoas que fazem milagres, que fazem a vida a cuidar dos outros", acrescenta Ana Fontoura, que espera poder distribuir a verba relativa à primeira fase do prémio, no valor de 150 mil euros, já no final de Julho, para fazer frente às necessidades urgentes e emergentes das instituições, a debater-se com mais dificuldades por causa da pandemia.
"As dificuldades serão maiores", prevê Maria de Belém, que tal como os restantes elementos, integra o júri desde a primeira edição. "Bastam os procedimentos de prevenção da transmissão da infeção para terem tornado mais cara a operação, a gestão corrente das instituições", constata. "A pandemia veio trazer enormes, enormes problemas a estas organizações. Elas já têm uma fragilidade que lhes é inerente e depois as necessidades na comunidade aumentaram e a sua operação, gestão diária tornou-se mais complexa e mais exigente. Portanto, é só dificuldades", acrescenta.
A segunda fase do prémio, para projetos que promovam a sustentabilidade das organizações, atribuirá os restantes 600 mil euros, mas só lá para janeiro de 2022. "Queremos dar-lhes ferramentas que lhes permitam trabalhar melhor, que as torne mais capazes, mais robustas, com mais recursos para trabalhar", avança Ana Fontoura. Sobretudo aquelas que não estão em Lisboa ou no Porto. "Queremos chegar ao sítio que ninguém sabe onde fica".
"É um setor que nos dá imensas lições, lições de solidariedade, de como a entreajuda é importante para contextos que são muito mais complicados do que aqueles que temos nas nossas relações diretas. E portanto, se nós passarmos pela vida com vontade de perceber o que é o mundo, de perceber o que é a nossa envolvente, e de perceber verdadeiramente o nosso país, nós poderemos estar melhor depois nas responsabilidades que exercemos", defende Maria de Belém. "Eu acho que um dos problemas grandes que se verificam em Portugal é que muitas vezes os decisores julgam que as pessoas que vão, ao fim e ao cabo, ser objeto da sua decisão são as pessoas dos contextos que eles conhecem. E os nossos contextos não são os mesmos. E portanto é preciso conhecer, perceber, ter sensibilidade para ver como o mundo é, como o nosso país é na sua especificidade, para podermos fazer juízos o mais possível sensatos", acrescenta, apontando para os níveis de pobreza em Portugal.
"Nós temos quatro milhões de pessoas pobres, 40%, quatro milhões de pessoas pobres antes das transferências sociais. Depois das transferências sociais ainda ficamos com dois milhões. E depois, desses dois milhões ainda temos uma percentagem que está em situação de exclusão. Portanto, isto é muito complicado, é um país com um lastro terrível. E estas organizações acabam por nascer porque há necessidades às quais o Estado não consegue chegar", alerta.
Ana Fontoura assume que o Prémio Fidelidade Comunidade pretende ser um complemento ao Estado, porque "o Estado não pode chegar a tudo", e garante que após a atribuição das verbas as instituições não são deixadas ao abandono. "Mantemos um contacto muito regular e percebemos que, depois do prémio, há outras pequenas necessidades a que podemos responder", diz