75% dos consumidores de drogas mudaram os comportamentos
O modelo português de descriminalização do consumo de drogas, que inclui as comissões de dissuasão da toxicodependência (únicas no mundo), vai estar em destaque na segunda edição da conferência europeia Lisbon Addictions, que começa na próxima terça-feira, em Lisboa.
"Vamos apresentar um estudo sobre como funcionam as comissões de dissuasão em Portugal e o que acontece às pessoas que foram encaminhadas para estes organismos. O estudo concluiu que 75% dos consumidores de drogas modificaram claramente o seu comportamento. Não é só no sentido de deixar o vício. Por exemplo, se consumiam substâncias cinco vezes por dia, passaram a consumir duas vezes", explicou, em declarações ao DN, o subdiretor do SICAD (Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências), organizador da conferência.
Manuel Cardoso adiantou que, ao longo de dois anos,foi feito um questionário a mais de mil consumidores no momento em que foram indiciados e na fase do processo arquivado, em que eram só 400. O destaque que a conferência europeia Lisbon Addictions vai dar à política portuguesa é justificado por um interesse mundial por este modelo.
"Desde 2009, temos tido uma procura enorme de políticos e cientistas de vários países a virem cá para perceber o que significa a descriminalização do consumo de drogas e o que são as comissões de dissuasão. Na conferência de 2015 fizemos uma sessão paralela para explicar o modelo português. Essa sessão estava cheia. Optámos por ter também desta vez um painel sobre a política, apresentado de uma forma mais estruturada e com divulgação de alguns resultados."
A conferência Lisbon Addictions vai passar em revista várias investigações internacionais na área das novas substâncias psicoativas, das drogas ilícitas, do jogo, da internet, da dark web, num conjunto de 550 sessões em três dias e 1200 inscritos de 70 países diferentes. Há um grande destaque ao consumo do álcool em Portugal, nos estudantes, nos adultos, nas grávidas. E isso acontece porque esta droga lícita continua a ser uma grande preocupação para o SICAD. "Em Portugal, a nossa primeira prioridade é o álcool. Quando avaliamos o impacto das várias substâncias na mortalidade,nas doenças, na saúde, o peso que o consumo excessivo do álcool tem na saúde dos portugueses é imensas vezes maior do que o das drogas ilícitas", sublinha Manuel Cardoso. "Temos uma preocupação com o consumo de álcool na juventude mas também, e muito, com os adultos. O consumo é demasiado tolerável entre nós. Toleramos muito o binge , o beber mais do que a conta."
É preciso passar a mensagem: "O álcool, o tabaco e as drogas ilícitas são responsáveis por 20% das mortes abaixo dos 65 anos em Portugal."
Na conferência também vai ser dada atenção às drogas ilícitas e às novas substâncias psicoativas. "As novas substâncias estão a ser usadas juntamente com a heroína e a criar overdoses nos Estados Unidos e no Canadá em quantidades absurdas. Isto é preocupante. Se não conseguirmos controlar esse fenómeno, pelo menos temos de estar atentos", realça o subdiretor do SICAD.
Os novos comportamentos estarão também em destaque, como o jogo online, a dependência da internet e o acesso à dark net, onde se realizam negócios de droga. "Vamos ter 200 investigadores nacionais na conferência e uma formação para jovens investigadores."