Os clubes portugueses pagaram um total de 70,5 milhões de euros em comissões a intermediários no âmbito de transferências internacionais de futebolistas no ano civil de 2019, ou seja, no mercado de janeiro (relativo à época 2018-19) e do verão (2019-20). A informação consta de um relatório publicado nesta quarta-feira pela FIFA, que detalha em pormenor os países mais gastadores no item específico de despesas de intermediação..Ou seja, no espaço de um ano, este valor quase duplicou no futebol nacional, pois o mesmo relatório da FIFA, datado de dezembro de 2018, indicava que os clubes portugueses tinham pago 38,2 milhões de euros em comissões (24,7 milhões em contratações e 13,5 em vendas a outros clubes). O que significa que, num ano, esta despesa duplicou. Por outro lado, o valor pago em comissões a agentes é quase metade do que os clubes portugueses gastaram em contratações de jogadores no mesmo período - 164,3 milhões de euros.. Veja aqui o relatório da FIFA de 2018. . Veja aqui o relatório da FIFA de 2019. .Este aumento tem, contudo, uma explicação, relacionada com o aumento do número de negócios feitos em 2019. Em 2018, os clubes portugueses venderam 34 jogadores e adquiriram 75 (só contabilizadas operações com comissões). Em 2019, desde janeiro, venderam 41 e adquiriram 103. Outro aspeto que contribuiu para o disparar deste valor está relacionado com os valores das transações feitas, já que, em média, os intermediários cobram 10% por cada operação..Portugal não é, em termos gerais, o país que mais pagou comissões em 2019. Mas lidera o ranking no que toca às despesas pagas a intermediários em termos de transferências de futebolistas para o estrangeiro (do bolo total de 70,5 milhões, 41,6 milhões foram respeitantes a operações de saídas de atletas). Neste item particular, ninguém gastou mais do que Portugal..Inflacionado por João Félix.O relatório da FIFA não menciona nomes de clubes, nem de jogadores. Enumera apenas as federações (países) que mais gastos tiveram a este nível. Mas, no caso português, não é difícil adivinhar quem mais contribuiu para este bolo de 70,5 milhões..João Félix foi transferido no mercado de verão do Benfica para o At. Madrid numa operação global de 126 milhões de euros. Deste bolo, a SAD dos encarnados teve de pagar 12 milhões ao empresário Jorge Mendes, que intermediou a transferência. Este valor, aliás, foi tornado público por Domingos Soares Oliveira, administrador da SAD do Benfica.."Há um pagamento de 10% do negócio [comissão à Gestifute, empresa de Jorge Mendes]. Eu sei que algumas pessoas questionaram, sendo o negócio feito desta maneira, por que há lugar ao pagamento de uma comissão. A comissão não advém deste negócio, advém da negociação que fizemos com o João Félix, que nos permitiu aumentar a cláusula para 120 milhões, dos anteriores 60 milhões. Ficou estabelecido nessa altura que, caso viesse a ser apresentada uma proposta de 120 milhões, haveria o pagamento de uma comissão de 10% [...] aos 126 há que retirar seis para a entidade financeira e os 12 para o agente, dando um valor líquido para o Benfica de 108 milhões", explicou o dirigente numa entrevista à revista Exame, em agosto..Despesas de Benfica, Sporting e FC Porto.Nos relatórios e contas dos três grandes clubes portugueses é possível perceber alguns dos custos com despesas de intermediação, sobretudo em relação às transações com vendas de atletas..No caso do Benfica, nas contas apresentadas à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) em novembro, a SAD informa que pagou um total de 9,674 milhões de euros em comissões relacionadas com vendas de jogadores, que no total atingiram 70 milhões de euros. Mas neste valor não está ainda contemplada a venda de João Félix, que só vai entrar num posterior relatório..O Benfica, ao contrário do Sporting, não especifica o valor jogador a jogador. Mas informa que, por exemplo, no caso do brasileiro Caio Lucas, que estava em final de contrato, ainda teve de pagar 4,085 milhões de euros, valor que engloba os encargos com serviços de intermediação..A SAD do Sporting, só no mercado do verão, gastou sete milhões de euros com comissões pagas a empresários. As transferências que implicaram mais custos foram os negócios das saídas de Raphinha para o Lille e de Bas Dost para o Eintracht Frankfurt..No caso do extremo brasileiro, a SAD leonina encaixou 21 milhões de euros, mas deste valor teve de descontar 2,5 milhões para despesas de intermediação, numa operação que foi feita pelo ex-internacional português Deco, que agora é agente de jogadores. Já o avançado holandês foi transferido para o Eintracht por sete milhões de euros, mas o seu empresário recebeu dois milhões de euros..As comissões de intermediação no caso da SAD do FC Porto são mais complicadas de descortinar, pois, no relatório e contas consolidado da época 2018-19, os dragões referem que pagaram 45,5 milhões de euros relacionados com vendas dos passes dos jogadores. Mas neste item, além das despesas de intermediação, entram também gastos com mecanismos de solidariedade, abate do valor contabilístico do passe do jogador e o fee pago aos clubes de origem pela cedência temporária de direitos desportivos ao FC Porto..O Benfica é, historicamente, o clube português que mais paga comissões a intermediários. De acordo com um estudo da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), revelado em junho, e tendo por base as últimas quatro temporadas (2015-16, 2016-17, 2017-18 e 2018-19), os clubes nacionais pagaram um total de 156 milhões em despesas de intermediação..A maior fatia coube ao Benfica, que em quatro anos desembolsou 79,6 milhões de euros (10 ME em 2015-16, 30,1 ME em 2016-17, 21,6 ME em 2017-18 e 17,9 ME em 2018-19). Segue-se o FC Porto, com 42,7 milhões de euros, e o Sporting, com 33,8 milhões. O quarto clube mais gastador nas quatro épocas contempladas foi o Sp. Braga - 11,4 milhões de euros..590 milhões em comissões em todo o mundo.O relatório da FIFA tornado público nesta quarta-feira indica ainda que o bolo total das comissões pagas em 2019 em todo o mundo atingiu os 590 milhões de euros, um aumento de 19,2% relativamente ao ano anterior: dois terços deste valor são pagos pelos clubes compradores..Curiosa é a forma como este valor global é repartido pelas diferentes confederações. Os clubes pertencentes à UEFA pagaram 564,7 milhões de euros em comissões. Seguem-se as equipas da CONMEBOL, com apenas 13 milhões, e em terceiro lugar a AFC (confederação asiática), com 11,7 milhões de euros em despesas de intermediação..O organismo informa ainda que apenas 395 das 17 896 transferências internacionais, registadas pelos mecanismos legais da FIFA (TMS), envolveram intermediários, algo que se explica pelo facto de dois terços de todas as transferências internacionais terem sido de jogadores sem contrato..A Sérvia, com 20,8%, lidera o ranking dos clubes vendedores que mais dependem de intermediários nas transferências de jogadores, logo seguida da Itália (19,9%), França (15,4%) e Portugal (13,1%). No que diz respeito à aquisição de atletas, Portugal surge em nono lugar (15,9%), numa tabela liderada por Itália, com 40,5 por cento..O pódio dos países que em 2019 mais gastaram com intermediários nas transferências internacionais de jogadores é liderado pela Itália, com um total de 117,7 milhões de euros, seguido da Inglaterra (93,5 ME) e Alemanha (76,3 ME). Portugal ocupa a quarta posição (70,5 ME).