"Hoje, a paz enfrenta um novo perigo, a emergência climática, que ameaça a nossa segurança, a nossa subsistência e as nossas vidas. É por isso que estou a convocar uma Cimeira da Ação Climática. É uma crise global. Só se trabalharmos juntos podemos tornar a nossa única casa pacífica, próspera e segura para nós e para as gerações futuras", disse o secretário-geral da ONU..Nesta segunda-feira, líderes de todo o mundo, presentes em Nova Iorque para a 74.ª Assembleia Geral das Nações Unidas, juntam-se a empresários para participar na Cimeira da Ação Climática, uma iniciativa com a marca de António Guterres..Como o ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, disse à Lusa, o principal objetivo da cimeira, que decorre ao mesmo tempo que a Assembleia Geral da ONU, é que o maior número de Estados se comprometam com a neutralidade carbónica em 2050..Na véspera, a Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência das Nações Unidas, divulgou um relatório que confirma os piores receios sobre as alterações climáticas e o aquecimento global. A temperatura média no período 2015-2019 será de 1,1° C superior à do período 1850-1900..Os dados mais recentes confirmam a tendência dos quatro anos anteriores, que já eram os mais quentes alguma vez registados, ou seja, desde 1850..O relatório também assinala que as ondas de calor foram o perigo climático mais mortal no período 2015-19, afetando todos os continentes e estabelecendo novos recordes nacionais de temperatura. O verão de 2019, que incluiu o mês mais quente de todos os tempos (julho), viu incêndios florestais sem precedentes no Ártico. Em junho, estes foram responsáveis pela emissão de 50 megatoneladas de dióxido de carbono..E as emissões de CO2 continuaram a aumentar em 2018 e serão pelo menos tão elevadas em 2019, segundo os cientistas que ultimaram o relatório para a ONU em preparação para a cimeira de segunda-feira..Roteiro português.É o ministro do Ambiente quem vai apresentar o roteiro com as metas para Portugal em Nova Iorque. "É uma peça de uma estratégia onde o território tem uma componente muito relevante, e onde a remuneração dos serviços de ecossistema é da maior importância para uma transição justa, tanto quanto possível igualitária no próprio território, e que garanta que o rendimento nunca baixará nos territórios de baixa densidade, porque só dessa forma é que o país como um todo pode de maneira justa ser neutro em carbono", diz Matos Fernandes..Segundo o governante, o país "não irá chegar a 2050 com emissões zero" de CO2. "As 68 megatoneladas de CO2 de há dois anos serão, correndo as coisas de acordo com a nossa ambição, 13 megatoneladas em 2050", disse..É o antigo primeiro-ministro português e alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados quem dá as boas-vindas aos participantes e irá falar com jovens ativistas. No sábado, Guterres fez parte de um painel na Cimeira da Ação Climática para a Juventude, que contou com a participação da sueca Greta Thunberg e também dos jovens Bruno Rodríguez (Argentina), Wanjuhi Njoroge (Quénia) e Komal Karishma Kumar (Fiji)..Antes das alocuções sobre temas específicos irão fazer uso da palavra três mulheres -- Angela Merkel, da Alemanha, Jacinda Ardern, da Nova Zelândia, e Hilda Heine, das Ilhas Marshall -- e um homem, o primeiro-ministro da maior democracia do mundo, Narendra Modi (Índia)..Alemanha junta-se a Portugal na aliança contra o carvão.Na véspera, o governo de Angela Merkel anunciou que a Alemanha vai aderir a uma aliança internacional de países que se comprometeram a abandonar gradualmente a eletricidade produzida a partir do carvão. "Abandonar o carvão é um pilar essencial da proteção climática global", disse a ministra do Ambiente, Svenja Schulze.."Quando um grande país industrial como a Alemanha vira as costas ao nuclear e ao carvão e está em transição para as energias renováveis para satisfazer as suas necessidades energéticas, envia um sinal forte a outras partes do mundo", disse ainda a ministra..A Powering Past Coal Alliance, fundada em 2017, junta 30 governos, entre os quais o de Portugal, bem como de mais de 20 governos estaduais ou autárquicos (em especial na América do Norte, na Austrália e no Reino Unido) e mais de três dezenas de empresas. Os signatários comprometem-se a suspender a construção de novas centrais elétricas a carvão, a suspender o financiamento do carvão à escala internacional, a fixar uma data para a saída efetiva desta fonte de energia e a respeitar as metas do Acordo de Paris. A Alemanha pretende encerrar todas as suas centrais elétricas a carvão até 2038, o mais tardar..Na entrevista à Lusa, o ministro português do Ambiente afirmou que, apesar de o país ter como objetivo encerrar as duas centrais termoelétricas até 2030, espera que em 2025 a central do Pego esteja encerrada e a de Sines também encerrada ou prestes a encerrar..Expectativa para o painel de intervenções sobre os planos para um mundo com neutralidade de carbono. Nele vão intervir os presidentes do Chile (Sebastián Piñera) e da Finlândia (Sauli Niinistö), o enviado especial da ONU para a ação climática, o ex-mayor de Nova Iorque Michael Bloomberg, a autarca de Montreal Valérie Plante e o administrador da Allianz, Emmanuel Faber, bem como para o encerramento da cimeira, no qual voltará a falar António Guterres..A alocução do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, junta-se a de outros líderes mundiais como os primeiros-ministros de Espanha, Itália, Reino Unido ou Suécia, ou os presidentes do Egito, da Turquia ou da Colômbia..Países como os Estados Unidos ou o Brasil primam pela ausência, enquanto a China (o mais populoso) e a Rússia (o maior em superfície) não se fazem representar pelo chefe de Estado ou de governo. Moscovo envia o vice-primeiro-ministro, Alexei Gordeyev, e Pequim o representante especial do presidente Xi Jinping, Wang Yi.