40 a 175 anos de prisão. A sentença de morte de Nassar

Juíza foi implacável com o ex-médico que abusou sexualmente e durante mais de 20 anos de ginastas norte-americanas
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Larry Nassar, ex-médico da seleção de ginástica dos Estados Unidos, foi ontem condenado a uma pena entre 40 e 175 anos de prisão por abusos sexuais cometidos contra centenas de jovens durante os mais de 20 anos que esteve no cargo. Os advogados de Nassar têm agora 21 dias para recorrer da sentença e pedir revisão da pena.

A sentença da juíza Rosemarie Aquilina foi demolidora para Nassar, de 54 anos, que em dezembro de 2017 já tinha sido condenado a 60 anos de prisão por posse de pornografia infantil, ele que na altura se declarou culpado das agressões sexuais de que é acusado.

"É minha honra e privilégio sentenciá-lo. Não merece caminhar fora de uma prisão. Não fez nada para controlar os seus desejos e, onde quer que vá, destruição vai acontecer aos mais vulneráveis", atirou a juíza, que classificou as atividades no seio da ginástica como "o sítio perfeito" para os abusos, que Nassar classificava perante as atletas como "tratamentos".

A juíza classificou as ações de Nassar como "precisas, calculadas, manipuladoras, desviantes e desprezíveis", antes de declarar que tinha acabado de "assinar a sentença de morte" do antigo médico.

Nos últimos sete dias, um total de 156 ginastas foram ouvidas em tribunal, acusando Nassar de as ter molestado, por vezes na presença dos pais, ao esconder os abusos sob a falsa pretensão de estar a aplicar tratamentos a lesões sofridas pelas atletas. Vários grandes nomes de topo da ginástica dos Estados Unidos, entre as quais a quádrupla campeã olímpica de ginástica Simone Biles, vieram a público denunciar terem sido vítimas de abusos por parte de Larry Nassar.

O caso do Ministério Público assentou nos crimes cometidos contra Jordyn Wieber, medalha de ouro olímpica em Londres 2012, as colegas de equipa Aly Raisman, Gabby Douglas e McKayla Maroney, e três outras atletas, mas várias outras ginastas, muitas delas menores, revelaram ter sofrido abusos.

Durante a sessão do tribunal em que foi proferida a sentença, Nassar confessou ter ficado "abalado" com os relatos das vítimas, e disse que "não há palavras" para descrever o quão arrependido estava pelos crimes cometidos. "Vou levar as vossas palavras comigo para o resto dos meus dias. Não há palavras para descrever a profundidade e a amplitude de quanto lamento o que ocorreu", acrescentou.

Novas investigações

Este caso não termina por aqui com a condenação do ex-médico. Durante a audiência, a juíza Rosemarie Aquilina indicou ainda que é necessário dar início a uma nova investigação para apurar as razões dos crimes de abusos sexuais cometidos terem sido encobertos durante tantos anos. Até porque, sabe-se agora, a Universidade de Michigan recebeu denúncias contra Nassar já na década de 90. E a Federação de Ginástica dos EUA e até o Comité Olímpico norte-americano foram acusados pelas vítimas de nada terem feito perante as acusações.

Este caso começou a vir a público em fevereiro de 2017, quando três ex-ginastas denunciaram os abusos do médico no programa 60 Minutes. A partir daí, mais de uma centena de jovens quebraram o silêncio e acusaram Larry Nassar. O Comité Olímpico dos EUA também anunciou ontem que vai abrir uma investigação independente.

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