São várias as vacinas recomendadas pelos pediatras que ainda não se encontram incluídas no Programa Nacional de Vacinação (PNV) e, por isso, não são comparticipadas pelo Estado. Contudo, podem custar mais de cem euros por dose e, para as famílias sem capacidade económica, torna-se uma impossibilidade adquiri-las. Perante esta realidade, o Parlamento aprovou, no final de 2018, a inclusão de três novas vacinas no PNV (meningite B, rotavírus e HPV alargado aos rapazes) no Orçamento do Estado de 2019, embora ainda falte o aval técnico da Direção-Geral da Saúde. Mas já havia pelo menos 31 autarquias que as comparticipavam ou ofereciam aos munícipes, de acordo com os dados do Observatório de Autarquias Familiarmente Responsáveis..De norte a sul do país, há dezenas de municípios que acolhem iniciativas que apoiam a compra de pelo menos uma destas três vacinas. Quer através de iniciativas de incentivo à natalidade quer pela promoção da saúde geral dos munícipes. São eles os municípios de Mealhada, Alcanena, Alcoutim, Almodôvar, Amares, Arruda dos Vinhos, Baião, Braga, Estarreja, Funchal, Góis, Gouveia, Guimarães, Ílhavo, Lousada, Mértola, Miranda do Corvo, Oliveira do Hospital, Ovar, Pampilhosa da Serra, Penafiel, Póvoa de Lanhoso, Póvoa de Varzim, São João da Pesqueira, Santo Tirso, Seia, Sobral de Monte Agraço, Soure, Tomar e Valpaços..Mas há condições a cumprir para que se possa ter acesso a este apoio: grande parte destes apenas comparticipam as famílias sob condições de carência económica. Santo Tirso, por outro lado, é o único desta lista que disponibiliza somente a vacina contra o rotavírus..A maioria das autarquias portuguesas, contudo, continua a não incluir qualquer apoio à vacinação no seu orçamento. E para muitos pais torna-se difícil compreender porque não estão elas inseridas no Programa Nacional de Vacinação quando recomendadas pelos pediatras dos filhos. Ana Cid, presidente da Associação de Apoio às Famílias Numerosas, não consegue precisar quantas famílias todos os meses chegam até si a pedir ajuda para este tema, à procura de saber se existe uma qualquer iniciativa de apoio financeiro à vacinação da qual possam usufruir. "Não conseguem perceber porque é que o pediatra recomenda e não estão incluídas no plano nacional de saúde", conta..O próprio coordenador da Comissão de Vacinas da Sociedade de Infecciologia Pediátrica, da Sociedade Portuguesa de Pediatria, admite que "grande parte das crianças que vão ao pediatra serão vacinadas" pelo menos com uma destas vacinas. Contudo, a discussão de a tornar acessível a todos exige uma análise menos linear. "A título individual, decide a família, mas a nível de saúde pública não é a família que decide, é o Estado que tem de o fazer", reiterou Luís Varandas. Ainda assim, "se os pais podem pagar estas vacinas, obviamente que devem escolher serem administradas"..Política versus ciência.No final do ano passado, quando da aprovação do Orçamento do Estado de 2019, o assunto foi centro de bastante debate e polémica no Parlamento. A proposta de incluir as três vacinas no PNV partiu do PCP e grande parte dos partidos votaram a favor, mas a ideia passou com o voto contra do PS e a abstenção do CDS. Os comunistas alegam que todas estas imunizações são recomendadas pela própria Sociedade Portuguesa de Pediatria, mas a Direção-Geral da Saúde está cética quanto à sua inclusão no Plano Nacional de Saúde..Com esta medida, várias famílias poderiam poupar até 600 euros na vacinação das crianças. A vacina contra o HPV para rapazes (a mesma já está disponibilizada no PNV para as raparigas desde 2008) pode custar entre os 70 e os 145 euros. Já a do rotavírus pode chegar aos 150 euros. E a da meningite B tem um custo aproximado de 95 euros por dose (nunca menos de duas)..Mas, para a diretora-geral da Saúde, a questão vai mais além dos custos. Durante a primeira reunião com o Parlamento sobre este tema, na passada terça-feira, Graça Freitas disse que a vacina da meningite B, por exemplo, ainda não tinha dado provas da sua efetividade. Isto é, não se tinha verificado "o efeito da vacina na medida prática do dia-a-dia, para uma determinada população, com umas determinadas características e para determinados micro-organismos". A mesma alerta que a decisão deve ter em conta a carga que as doenças que estas vacinas pretendem combater tem em Portugal. "Se uma doença não tem uma carga tão grande, temos de pesar as características de cada vacina", explicou ao DN..De acordo com a estratégia equacionada pela Comissão Técnica de Vacinação, apresentada pela diretora-geral da Saúde, no total, "a entrada das três vacinas no mesmo ano poderia ter um custo direto na ordem dos 15 milhões de euros por ano, o que representa quase metade do que custa todo o PNV"..O Ministério da Saúde espera agora que a Direção-Geral da Saúde lhes faça chegar relatórios técnicos sobre cada uma das vacinas nas propostas relativamente às mesmas, durante os próximos dias. Contudo, a decisão final será sempre política.