25 anos (e algumas horas) à espera de um encore
Sara tinha 12 anos em 1992 e os Guns n' Roses, mais que uma paixão, eram "uma obsessão". É a própria quem o afirma, quase 25 anos depois, enquanto aguarda o reencontro com os velhos ídolos, que na altura viu na companhia de uma amiga, da mãe e do tio, no velho estádio de Alvalade. Foi a mãe que lhe ligou, a dar a notícia de que os Guns iam voltar a Portugal. "Até tinha uma bandeira, com uma fotografia da banda e o quarto forrado com posters. Hoje sigo-os no Instagram", afirma Sara, enquanto ouve o concerto de Mark Lanegan, outro digníssimo sobrevivente dos anos 90 que aqueceu (e bastante bem, sublinhe-se) o público antes da banda principal. Sara não trouxe a sua bandeira, guardado algures numa gaveta da casa de sua mãe, mas eram muitas as bandeiras que se viam entre o público, recuperando esse hábito antigo dos grandes concertos rock.
Tudo ontem à tarde remetia, aliás, para esses gloriosos velhos tempos: o trânsito infernal, as filas de gente, as garrafas e latas de cerveja nas mãos de todos e pelo chão, as roupas e todo um sem fim de adereços que, um quarto de século depois, tanto podem ser o suprassumo do "cool" como uma caricatura carnavalesca. Olhando à volta, veem-se um pouco por todo o lado sósias mal amanhados de Slash, com cartola e peruca encaracolada, e muitas bandanas nas cabeças, como Axl Rose usava.
Quem também esteve em Alvalade, foi Francisco, à época já "um homem de 21 anos". Tem até vestida uma t-shirt da altura "para o provar", como faz questão de mostrar. Foi um dos milhares que atiraram garrafas e relva para o palco, que haveriam de provocar a célebre birra do vocalista. "A culpa foi do Mike Patton [vocalista dos Faith no More, que actuou antes]", recorda divertido. "Estou há 25 anos à espera de um encore", diz, com uma gargalhada.
Não se pense no entanto que foram só os veteranos de Alvalade a lotarem por completo o Passeio Marítimo de Algés. Muitos dos espetadores do concerto de ontem ainda nem eram nascidos em 1992. A exemplo, aliás, do primeiro músico a subir ao palco, o Texano Tyler Bryant, que nasceu um ano antes e cumpriu a função de (pré)aquecer a multidão com o seu blues rock clássico, tal como havia feito há pouco mais de ano, neste mesmo local, no concerto dos AC/DC, com o mesmo Axl Rose como vocalista.
Já passa da hora marcada para o início do concerto, quando nos ecrãs aparece finalmente o símbolo dos Guns n" Roses, arrancando o primeiro grande aplauso da noite, a que nem Tuler Bryant ou Mark Lanegan tiveram direito. O violento vento que durante toda a tarde fustigou a multidão também amainou. "A ver se desta vez corre melhor e ninguém escorrega", diz alguém a meio da multidão, enquanto alguém grita a plenos pulmões pelo nome de Slash.
Ouvem-se tiros e aparecem nos ecrãs as famosas pistolas e as rosas, que anunciam a iminente entrada da banda e a vista do palco é de imediato tapada por milhares de telemóveis. A banda entra em palco ao som do genérico dos desenhos animados do Bugs Bunny e arranca logo com It"s So Easy, o clássico do álbum de estreia Appetite for Destruction, lançado há 30 anos. A voz de Axl está igual, a guitarra de Slash soa tão infalível como sempre.Ouvem-se os primeiros acordes de Mr. Bronwstone e toda esta multidão volta atrás no tempo, até mesmo aqueles que nunca o viveram. Chinese Democracy é recebida com alguma indiferença, mas depois vem Welcome to The Jungle e o recinto explode. Segue-se a sucessão de êxitos que todos desejavam. Sara, de olhos fechados, canta todas as letras do princípio ao fim, enquanto lá mesmo à frente, junto às grades, Francisco tem finalmente o encore pelo qual esperou 25 anos.