23 jogadores sem "pátria" lutam por título mundial
As sobras. Era assim que a Team Europe era conhecida antes do início da Taça Mundial de Hóquei no Gelo, que está a decorrer em Toronto, no Canadá. Um conjunto de 23 jogadores oriundos de alguns países europeus sem qualidade suficiente para jogar esta competição, mas onde pontificam jogadores de classe mundial. O convite da National Hockey League (NHL norte-americana, que organiza a competição) tinha como objetivo ajudar a compor o elenco competitivo da prova, mas ninguém acreditava no sucesso desta seleção de recurso. Agora, a Team Europe chegou à final e está a lutar pelo título com o Canadá.
A Team Europa é a única equipa nesta Taça Mundial (competição onde se juntam apenas as melhores seleções) sem direito a ouvir tocar um hino antes das partidas. Até porque seria complicado tocar os hinos nacionais de Áustria, Dinamarca, França, Alemanha, Noruega, Eslováquia, Eslovénia e Suíça, os oito países de onde são naturais estes 23 jogadores - Rússia, Suécia, República Checa e Finlândia são as quatro nações europeias com seleções próprias.
Na madrugada de quarta-feira, a Team Europe perdeu o primeiro jogo para a equipa da casa, por 3-1, mas já ninguém lhe tira o mérito de ter chegado tão longe, eliminando potências como os Estados Unidos ou a Suécia. Amanhã, a seleção europeia tem obrigatoriamente de vencer para sonhar ainda com a terceira e última partida, mas na verdade esta aposta parece estar ganha. E até os adversários já se renderam ao hóquei praticado pela Team Europe.
"Pensei sinceramente que eles eram melhores do que nós em diversas partes do encontro. Sentimos muitas dificuldades e eles provaram que estão muito fortes. Provavelmente ninguém esperava que chegassem tão longe, sem rotinas entre os jogadores, mas todos eles são excelentes e por isso estão a lutar por um dos títulos mais desejados no hóquei mundial. Teremos de preparar muito bem a segunda partida", considerou ontem o selecionador do Canadá, Mike Babcock.
Treinador manda no Southampton
E se uma equipa formada por um leque de jogadores oriundos de vários países é já por si bastante inacreditável, mais se torna quando o técnico escolhido para os orientar é nada mais nada menos que o presidente do Southampton... equipa de futebol da primeira divisão inglesa.
Ralph Krueger, de 57 anos, natural de Winnipeg, no Canadá, foi um antigo internacional alemão de hóquei no gelo e ex-selecionador da seleção da Suíça. Membro do Fórum Económico Mundial, no início de 2014 foi escolhido para diretor do Southampton, tendo sido eleito posteriormente presidente do clube onde jogam os portugueses José Fonte e Cédric.
A verdade, no entanto, é que a sua paixão pelo hóquei no gelo nunca desapareceu e depois de aprovada a ideia para a criação da Team Europe Ralph Kruger foi o primeiro a ser convidado, devido ao seu conhecimento do universo da NHL (principal liga mundial da modalidade) e do hóquei na Europa. Foi escolhido e aceitou. Para tal, no entanto, foi obrigado a aceitar uma licença sem vencimento dos saints. E a verdade é que compensou, pois já ninguém retirará a Team Europe da história da competição.
O dirigente do Southampton diz-se maravilhado com tudo o que está a viver no Canadá. "Depois deste jogo estamos furiosos, e penso que isso é muito bom, até porque estamos bastante confiantes depois do que fizemos contra o Canadá. Acredito que valeu a pena estar aqui e que estaremos muito bem preparados e fortes para o segundo jogo desta final", considerou Ralph Krueger, um presidente de futebol a causar furor no hóquei no gelo.